Um corpo morto: Relações entre Memória, Esquecimento e Corpo, em Nove Noites de Bernardo Carvalho

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Andrade, João Victor Borges de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/258629
Resumo: No presente trabalho, o texto literário, sobretudo o brasileiro contemporâneo, é compreendido, nesta dissertação como um campo de estudos e espaço de significação das práticas sociais e ideológicas, nas quais diferentes relações da sociedade são formadas e reformadas a partir da normatividade, da opressão e da resistência. Com isso, buscou-se investigar as diferentes relações do sujeito com o dizer e seus diversos efeitos de sentido, o que permitiu construir um gesto de leitura sobre o romance “Nove Noites”, de Bernardo Carvalho, balizando alguns conceitos discursivos, tais como os de “memória” (lembrar), “esquecimento” (esquecer) e “corpo” como imbricações simbólicas entre materialidades linguístico-literárias e efeitos de sentidos no imaginário. A obra escolhida como corpus pertencente ao início dos anos 2001, é trazida à tona, a partir de um enfrentamento histórico anterior à cena contemporânea no Brasil, que resistiu e fez com que a prosa brasileira permanecesse em meio a um golpe de Estado (1964) anterior. que movimentou e gerou impacto em toda uma linha de produções literárias e crítico-literárias posteriores. Ao utilizar as noções discursivas sobre o texto literário brasileiro contemporâneo, partimos de um percurso entre epistemologias distintas que divergem e convergem, partindo de premissas que tentam discutir as contribuições dos conceitos discursivos e da análise de discurso materialista, para o processo de análise literária, a qual considera não somente a literatura como materialidade da língua, mas também como materialidade do sujeito, junto à exterioridade constitutiva. Ao se levar em consideração os estudos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, bem como suas contribuições para a análise de discurso, a dissertação se debruçou em investigar como a relação entre “memória” e “esquecimento” resultam no processo de enunciar e nomear os corpos ao longo da narrativa, tais como, o corpo do personagem antropólogo, os corpos indígenas marcados pela diferença, o próprio corpo da narrativa enquanto unidade ou, até mesmo, o corpo daquele que enuncia, como locutor – todos esses sustentados por uma relação de “lembrar” e de “esquecer”. Assim, tratando a elaboração da corporeidade dos personagens em perspectiva discursiva, esta dissertação não compreende a literatura apenas como um texto narrativo, mas relacionada a uma compreensão da prática literária enquanto ideológica (não inversão ou mistificação do real, mas relação imaginária e simbólica com este). Além das relações entre “memória” e “esquecimento”, o presente texto busca também propor uma relação discursiva sobre a construção do corpo em discursos, a partir do pressuposto de que todo discurso, em relação a uma forma-sujeito, interpela os sujeitos enquanto corporeidade, assumindo uma posição e uma relação com as realidades, refletindo também sobre como tal construção permite determinados corpos emergirem como visíveis, seja no “real” da história ou no “real” da língua.