Profissão do lar: imposição ou escolha?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Bidarte, Marcos Vinicius Dalagostini lattes
Orientador(a): Fleck, Carolina Freddo lattes
Banca de defesa: Troian, Alessandra lattes, Freitas, Diana Paula Salomão de lattes, Araújo, Hildete Pereira de Melo Hermes de lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pampa
Programa de Pós-Graduação: Mestrado Acadêmico em Administração
Departamento: Campus Santana do Livramento
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://dspace.unipampa.edu.br:8080/jspui/handle/riu/2962
Resumo: A elaboração deste estudo foi orientada pelo objetivo de investigar quem são os sujeitos que abandonaram funções remuneradas no mercado de trabalho para o exercício da profissão do lar, analisando as principais razões para tal atitude e suas implicações para as questões de gênero, domésticas e familiares. Metodologicamente, o estudo caracteriza-se como descritivoexploratório, de abordagem qualitativa, realizado utilizando o método história oral temática. Para a seleção dos sujeitos, utilizou-se a técnica bola de neve, sendo o cenário da investigação limitado, inicialmente, à cidade gaúcha de Santana do Livramento-Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com treze profissionais do lar, sendo nove mulheres e quatro homens, entre os meses de agosto e outubro de 2017, com duração média de 1h cada. Os dados foram examinados através da análise textual discursiva. Os resultados revelam que as razões pelas quais os entrevistados abandonaram permanente ou temporariamente o mercado de trabalho, classificadas em ordem de importância decrescente, foram: filhos pequenos, desemprego, familiar idoso e/ou doente, marido, aborrecimentos no emprego, mudança de cidade, sentimento de saudade da família, dupla jornada de trabalho e elevado custo de vida na capital. Essas razões se distinguem entre os entrevistados pela idade, pelas situações sociais e conjugais, pelo contexto econômico, pela escolaridade e pelas relações de trabalho. Ao desagregar as principais razões por imposição/escolha e por gênero, verificou-se o seguinte: mulheres (imposição: desemprego, marido; escolha: maternidade, filhos pequenos), homens (imposição: desemprego; escolha: mudança de cidade). Esses resultados revelam que os homens e as mulheres entrevistadas abandonaram o mercado de trabalho por razões completamente distintas, possuindo, apenas, como razão comum o desemprego. Constatou-se que os homens e as mulheres entrevistadas realizam os mesmos afazeres domésticos, no entanto, no âmbito doméstico e familiar, elas enfrentam dificuldade em compartilhar esses afazeres com seus maridos e/ou com seus filhos do sexo masculino. Os afazeres domésticos consomem muita energia e grande parte do tempo dos entrevistados, sendo maior para elas (4,6 horas diárias; 32,2 horas semanais) do que para eles (3,6 horas diárias; 25,2 horas semanais), e caracterizam-se pela fragmentação, multiplicidade e simultaneidade. Além do sexo, a cor, a escolaridade, o rendimento mensal familiar, o tipo de arranjo familiar, o número e a idade dos filhos e a presença de aparelhos eletrodomésticos constituem variáveis que impactam diretamente sobre a distribuição do tempo dedicado à realização de afazeres domésticos na esfera privada, revelando desigualdades de gênero. O trabalho doméstico é percebido pelos entrevistados, especialmente mulheres, como uma atividade não remunerada, invisível e desvalorizada na esfera privada, tanto pela família quanto pela sociedade. As razões para isso estão profundamente relacionadas com o papel da mulher fundamentado na sociedade patriarcal e com a noção de trabalho elaborada pelo sistema capitalista. É importante, e por isso se faz necessário, pensar em formas de valorizar o trabalho doméstico não remunerado na sociedade brasileira, sendo uma delas a contabilização dos afazeres domésticos no Produto Interno Bruto, por meio da construção de contas-satélites. Enquanto as pesquisas nacionais oficiais continuarem adotando uma visão de trabalho capitalista, o trabalho doméstico e quem o realiza, principalmente as mulheres, continuarão desvalorizados e invisíveis nas esferas privada e social.