Relações de gênero e trabalho doméstico não remunerado : a participação masculina no trabalho reprodutivo – evidências gaúchas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Bidarte, Marcos Vinicius Dalagostini
Orientador(a): Rodrigues, Maria Beatriz
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/282822
Resumo: Este estudo objetiva descortinar reflexões sobre como os homens gaúchos estão se envolvendo no trabalho doméstico não-remunerado (afazeres domésticos e cuidado), debatendo, de maneira crítico-reflexiva, os aspectos de diferenciação e similaridades dessa participação e seus reflexos para as questões interseccionais nas opressões de gênero, classe e raça nos âmbitos domésticos e familiares. Metodologicamente, o estudo foi conduzido de forma descritivo-exploratória, utilizando uma abordagem qualitativa. A seleção dos participantes foi feita através da técnica bola de neve em oito cidades do estado do Rio Grande do Sul. Através de entrevistas semiestruturadas com treze homens gaúchos, complementadas por anotações de observação e registros fotográficos, o corpus deste estudo foi submetido à análise de discurso. Os dados foram organizados em três temas, após a caracterização do perfil dos participantes: I) afazeres domésticos; II) cuidado, com as categorias (i) filhos/as, (ii) membros da família idosos e/ou com deficiência, (iii) animais de estimação e/ou animais domésticos, e (iv) hortas e plantas; e III) uso do tempo, com as categorias (i) tempo nas atividades de trabalho remunerado, e (ii) tempo nas atividades de trabalho não-remunerado. Os resultados revelam que, no contexto doméstico e familiar, os participantes (a) realizam diversos afazeres domésticos, que consumem tempo e são caracterizados pela fragmentação, multiplicidade e simultaneidade, (b) realizam diversas atividades de cuidado, que variam desde cuidados físicos e psicológicos a pessoas, orientadas de forma preventiva ou para a cura, até o cuidado com plantas e animais domésticos, (c) compartilhando essas tarefas com cônjuges ou membros da família. No entanto, (d) essa participação, na maioria dos casos, mostrou-se secundária, especialmente durante a pandemia de Covid-19, o que (e) resultou em uma sobrecarga para seus cônjuges, particularmente àquelas inseridas no mercado de trabalho. A participação dos homens gaúchos entrevistados no trabalho doméstico (afazeres e cuidado) revela-se intrinsecamente contraditória, manifestando-se tanto de forma progressiva quanto regressiva; tanto como um processo mais equânime e proporcional quanto diferente e assimétrico; e tanto como uma expressão de comportamentos conservadores e mentalidade mais fechada quanto comportamentos hodiernos e mentalidade mais aberta. Isso sugere mudanças comportamentais e de mentalidade, à medida que eles começam a reconhecer suas responsabilidades nas atividades relacionadas à casa, à família e às crianças, especialmente durante e após a pandemia. Essa reflexão os leva a considerar mais profundamente questões como paternidade, papéis sociais, desigualdades de gênero e uso do tempo. Ainda assim, a forma como cada um gerencia seu tempo varia consideravelmente, refletindo, em um nível micro, o mosaico de desigualdades individuais, e, em um nível macro, a estrutura social à qual pertencem. Não por acaso fatores sociais, demográficos, familiares, culturais, econômicos, ideológicos e estruturais do mercado de trabalho influenciam o equilíbrio entre o tempo dedicado ao trabalho remunerado e ao não-remunerado, evidenciando uma tendência à expansão do tempo dedicado ao primeiro e à contração do tempo disponível para o segundo. Por fim, os lugares sociais ocupados pelos participantes, juntamente com suas experiências e perspectivas decorrentes desses lugares, oferecem explicações para as desigualdades e opressões estruturais que se manifestam a partir de um olhar interseccional sobre gênero, cor/raça e classe. Embora os indícios de vontades e mudanças em curso sejam pequenos, vagarosas e incrementais, acredita-se que estamos diante do surgimento de um novo perfil masculino, ainda em construção, mas com potencial para promover transformações significativas nas esferas doméstica, familiar e social.