Carnaval na República do Medo: ironia e paródia em letras de Gonzaguinha - um estudo bakhtiniano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Archanjo, Rafael Menari lattes
Orientador(a): Ludovice, Camila de Araújo Beraldo lattes
Banca de defesa: Marchezan, Renata Maria Facuri Coelho lattes, Pernambuco, Juscelino lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade de Franca
Programa de Pós-Graduação: Programa de Mestrado em Linguística
Departamento: Pós-Graduação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.cruzeirodosul.edu.br/handle/123456789/756
Resumo: A história demonstra que a recorrência ao cômico é veementemente combatida por regimes totalitários. Tal ocorrência, tida como manifestação da cosmovisão carnavalesca, rompe com a seriedade característica dos discursos desses períodos, por meio da polêmica velada e da paródia. Após o golpe civil-militar de 1964, o Estado brasileiro, instaurado o regime de exceção, edificou um discurso otimistanacionalista, cívico e disciplinador, de um país emergente beneficiado pelo crescimento econômico, e a esfera da canção tornou-se uma ampla arena axiológica; palco de embates dialógicos e ideológicos, em que o autor-pessoa Gonzaguinha se consolidou como um opositor ao regime. Na investigação proposta, coube-nos observar como, dialogicamente, os enunciados das letras de música do autor-criador que viceja na obra do cancionista, carnavalizaram o discurso da propaganda engendrada pelo Estado brasileiro. O exercício heurístico teve, nas produções de Bakhtin (1987; 1997; 1998; 2011; 2012) e de Bakhtin e Volochínov (1926; 2006), suas principais reflexões que, somadas às contribuições de outros pesquisadores, em destaque, Hutcheon (1985), Brait (1996; 2003; 2005), Koch (2008), Fiorin (2009; 2012) e Marchezan (2012; 2015, no prelo), formaram a base de aporte. Outros estudos que dialogaram com o cronotopo da investigação também integraram o arcabouço teórico. A proposta justificou-se na quase não existência de trabalhos do âmbito da Linguística aplicados à obra engajada do cancionista, conhecido popularmente pelas suas produções líricas. O plano de análise ancorouse à metodologia qualitativa de revisão bibliográfica, acompanhada da aplicação de teoria exegética. As observações restringiram-se às letras das seis canções selecionadas distribuídas em seis álbuns do artista lançados entre 1973 e 1981. Por meio das análises, constatamos que o autor-criador se vale da carnavalização para tecer um contradiscurso ao do Estado, utilizando-se, para driblar o crivo censório, de ambiguidades semânticas provocadoras do efeito irônico. As relações dialógicas ocorrem, mas em oposição. Os aparentes “ditos” dispostos na enunciação, são subvertidos por “não-ditos”, que ressoam no interior do discurso, constituindo sua réplica velada. O mesmo acontece quando o autor-criador emprega a intertextualidade paródica. Ambos os processos incidem no grito livre da praça pública carnavalesca. A recorrência à paródia e à ironia instaura o cômico sobre o sério, abrindo o campo semântico da letra da canção à pluridiscursividade. Ambos os processos que, em certas ocorrências, não se separam, possibilitam a bivocalidade, a reverberação de vozes que se chocam axiologicamente, na relação tensa entre palavra autoritária e palavra internamente persuasiva. Nesse embate, a ironia e a paródia do autor-criador, desconstroem os sentidos e símbolos da propaganda ufanista, construindo uma enunciação em colisão com a univocidade do discurso estatal.