Fluoretação de águas de abastecimento público: iniquidades e impacto sobre a cárie dentária

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Schmitt, Ernesto Josué lattes
Orientador(a): Gabardo, Marilisa Carneiro Leão lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Positivo
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Odontologia Clínica
Departamento: Pós-Graduação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.cruzeirodosul.edu.br/handle/123456789/2190
Resumo: A fluoretação de águas de abastecimento público tem sido considerada importante medida para minimizar as iniquidades em saúde bucal. Na presente Tese foram investigadas possíveis associações entre macrorregiões do Brasil, porte populacional, Índice de Desenvolvimento Humano em nível Municipal (IDH-M) e acesso à agua encanada, com os desfechos de fluoretação e de cárie dentária aos 12 anos de idade. Foi elaborado um artigo com desenho ecológico, com uso de bases públicas de dados secundários: levantamentos epidemiológicos nacionais realizados em 2003 e em 2010, e Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, para os anos 2000 e 2010. Foram incluídos os 50 municípios que participaram dos dois estudos epidemiológicos que após ajustes, gerou um total de 57.388 habitantes. A primeira análise, com recorte de dados do SB Brasil 2003 teve como variável dependente a fluoretação categorizada em: antes de 1990, após 1990 ou ausente; as independentes foram macrorregião do país - Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul); porte populacional para o ano 2000, categorizado segundo número de habitantes de 2000 em: até 20.000, de 20.001 a 50.000, 50.001 a 150.000, e ≥ 150.000; IDH-M para o ano 2000, categorizado em baixo (< 0,600), médio (0,600 - 0,699) e alto (> 0,699); e acesso à água encanada dicotomizado em “com” ou “sem” em 2000. Para os dados do SB Brasil 2010, o ano de corte da fluoretação foi 2004; porte populacional, IDH-M e água encanada foram alterados para 2010. Com o desfecho de cárie dentária, o mesmo foi seguido com as variáveis independentes. Foi aplicado o teste de Qui-Quadrado ajustado pelo método de Bonferroni, para determinar a associação entre as variáveis explicativas e a sua capacidade de predizer os desfechos de interesse. Como resultados, houve diferença estatisticamente significativa entre as macrorregiões do país e a presença ou não de fluoretação (p < 0,001), com marcante desigualdade, onde no Nordeste a inexistência da medida ultrapassou os 80,0% e não teve qualquer melhoria de 2003 para 2010; opostamente, Sul e Sudeste tem cobertura de 100,0%. Para os anos 2003 e 2010, a variável fluoretação esteve associada de modo estatisticamente significativo a todas as variáveis explicativas, com valor de p < 0,001. Norte e a Nordeste, em ambos os anos, comportaram mais pessoas que não tem acesso à medida. Quanto ao porte populacional, a categoria “≥ 150.001 habitantes” coincidiu com acesso precoce à fluoretação de águas, seja “até 1990” ou “até 2004”. Para o IDH-M, com dados de 2003, constatou-se que na categoria “baixo” prevaleceu a associação com a ausência de fluoretação. Para 2010, também se destacou que o melhor desenvolvimento esteve associado à implementação da medida. Ainda, para 2003 e 2010 ficou a clara a redução do percentual de pessoas que residem em regiões sem fluoretação, mesmo mediante o incentivo da política de saúde de 2004, e isso ocorre independentemente do extrato de IDH-M. Quanto ao acesso à água encanada, o mesmo comportamento foi identificado, ou seja, aqueles que não recebem água encanada, não tem fluoretação. Com referência ao desfecho de cárie dentária, em geral, o CPO-D ≥ 1 sofreu um aumento em todas as regiões na presente amostra. Já em 2003 e em 2010, essa experiência foi maior na população das regiões Norte e Nordeste. O CPO-D ≥ 1, em ambos os anos, esteve associado ao porte populacional, exceto para “≥ 150.001 habitantes”, em que o CPO-D = 0 foi superior. Em 2010, dentro de cada faixa de porte populacional, quando comparada a experiência de cárie, aqueles na categoria “com” tiveram valores superiores ao dobro quando comparados aos da categoria “sem”, em todos os extratos. Quanto ao IDH-M, em 2010, a associação com a experiência de cárie não foi estatisticamente significativa (p = 0,066). Entretanto, para os menos desenvolvidos (IDH-M < 0,600), houve mais experiência de cárie (CPO-D ≥ 1), nos anos 2003 e 2010. O fato de ter ou não acesso à água encanada não esteve associado à experiência de cárie no ano 2003 (p = 0,061), e em 2010 uma maior prevalência de indivíduos que tem acesso à água encanada se classificou na categoria CPO-D = 0. Por fim, na associação entre cárie dentária e fluoretação de águas, ficou claro o impacto que a medida tem sobre a doença, com associação significativa para ambos os anos (p < 0,001). Em 2003, a fluoretação mais precoce (antes de 1990) apontou para um acréscimo no número de indivíduos com CPO-D = 0. Em se tratando do recorte temporal da fluoretação de 2004, também foi observada maior frequência da doença quando da ausência de fluoretação. Pode-se concluir que tanto a fluoretação de águas como a cárie dentária guardam uma relação com outros fatores analisados na presente amostra, como macrorregião do país, porte populacional, IDH-M e acesso à água encanada. Deve-se considerar, ainda, que a fluoretação é uma medida importante para a redução da prevalência e severidade da doença cárie, com capacidade de reduzir iniquidades em saúde bucal.