Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Vilela, Ana Laura Silva |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.unb.br/handle/10482/51556
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Resumo: |
As vidas de Ebomi Vanda Machado e Mãe Jaciara Ribeiro, duas mulheres negras de axé de Salvador-Bahia, filhas da orixá Oxum, conduzem os caminhos desta tese. Há décadas, Ebomi Vanda Machado elabora propostas de educação a partir dos terreiros, como lócus do pensamento africano recriado na Diáspora e se mobiliza em redes de encontro e afetos das comunidades de terreiro. A ialorixá Mãe Jaciara Ribeiro constituiu sua trajetória política e religiosa a partir da luta nacional para a reparação da violência religiosa contra sua mãe biológica, Mãe Gilda, e mantém de pé o legado da mãe. Assim, acolho o mandamento do feminismo negro de que vidas de mulheres negras oferecem projetos de justiça. Mas não qualquer justiça. A pergunta que guia o texto é: "de que modo as experiências de duas mulheres negras de axé compõem projetos de justiça epistêmica?". Apresentar este problema à pesquisa jurídica demanda enfrentamentos epistemológicos desde seu posicionamento. O primeiro desafio da tese é lidar com a ignorância em relação às mulheres de axé e tornar temas e cenários em que se dão as vidas das mulheres de axé compreensíveis em uma pesquisa em Direito, a partir de contextos, fluxos e enredos político-teóricos sobre as religiões afro-brasileiras e de múltiplas fontes reunidas em trabalho de campo realizado com Mãe Jaciara e Ebomi Vanda, especialmente entre 2018 e início de 2020. Outras histórias e teorias de mulheres de axé se impõem na conversa; reviso estudos antropológicos sobre religiões afro-brasileiras e investigo a categoria "mulheres de axé" e debates correlatos sobre gênero, raça, política, nação etc. Para compor o conceito de justiça epistêmica, localizo no campo jurídico proposições teóricas que confiram dignidade epistêmica às vidas, em especial a vidas de mulheres negras, não apenas como habitantes de cenas de sujeição, mas de espaços produtivos de criação e aprendizado para o Direito. A categoria política ialodê é central na tese. Foi acionada pelo feminismo negro brasileiro do repertório afrodiáspórico iorubá e exigida pelo trabalho de campo; são duas mulheres de Oxum. Corresponde a um cargo atribuído às mulheres na defesa de seu poder político. Busco explorar algumas imagens, narrativas e contradições nos escritos sobre a ialodê que auxiliem a compreensão de sua reivindicação atual pelas mulheres de terreiro. A partir de Oxum, e de vidas movidas pela episteme de Oxum, não se trata de um projeto de justiça qualquer, mas acima de tudo estético, epistêmico e comprometido com a memória e ancestralidade. Por isto, a justiça epistêmica se dedica ao projeto comunitário que também é composto por ancestrais, aquelas e aqueles que vieram antes. As vidas das mulheres de terreiro reposicionam diferentes saberes em seus corpos, indumentárias e práticas. E se estas mulheres exigem e disputam léxicos de Estado, neles não se esgotam, elaborando sobre "outra coisa". É sobre esta "outra coisa", insubmissa e impronunciável, que esta tese se ocupa. Sendo de Oxum, a tese se obriga à beleza enquanto método (SHARPE, 2024) e assim como no sistema iorubá, a arte percorre todo o texto. |