Solos, geoformas e interrelações da paisagem livre de gelo de Cape Lamb, Ilha Vega, Antártica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Siqueira, Rafael Gomes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Solos e Nutrição de Plantas
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br//handle/123456789/29305
Resumo: Cape Lamb localiza-se no sudoeste da Ilha Vega, que faz parte do arquipélago James Ross, à nordeste da Península Antártica. A região é considerada uma zona de transição climática entre a Antártica Continental e a Antártica Marítima, e o clima é caracterizado pela condição semiárida. A geologia é marcada por rochas sedimentares marinhas de idade Cretácica e rochas vulcânicas do Neógeno. A compreensão dos processos morfogenéticos e pedogenéticos atuantes na paisagem de Cape Lamb tem grande importância para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas pretéritas e atuais nos ambientes livres de gelo da Antártica. No segundo capítulo deste trabalho, teve-se como objetivo identificar e mapear as principais geoformas de Cape Lamb. O mapa geomorfológico foi produzido a partir de trabalhos de campo e fotointerpretação de imagens de satélite. Vinte e cinco geoformas foram mapeadas em Cape Lamb, envolvendo extensas morainas laterais, geleiras de vale, terraços marinhos soerguidos, tálus, scree slopes sedimentares e vulcânicos, planícies fluvioglaciais, plataformas de crioplanação, platôs vulcânicos, thermokarts, entre outros. Observou-se uma complexa interação de processos glaciais, proglaciais, periglaciais e paraglaciais, com amplo domínio do paraglacialismo, que representa 45% da área total. A grande complexidade de geoformas mapeadas é explicada pela diversidade de processos morfogenéticos identificados: periglaciais, glaciais, fluviais, eólicos, marinhos, lacustres, gravitacionais, tectônicos e estruturais. De forma geral, a condição paraglacial de Cape Lamb evidencia o estado de instabilidade da sua paisagem e de dinâmico reajuste de uma condição glacial para uma não-glacial, devido à recente exposição pela deglaciação. O terceiro capítulo teve como objetivo analisar os principais fatores e processos de formação dos solos de Cape Lamb. Para isto, perfis de solos representativos foram descritos e amostrados. Foram feitas análises químicas: pH H 2 O, pH KCl, Ca 2+ , Mg 2+ , Al 3+ , H+Al, P-rem, COT, condutividade elétrica e P, K, Na e S disponíveis; e físicas: análise granulométrica e densidade de partículas. Os teores semi-totais de elementos (Si, Al, Fe, Ca, Mg, K, Ti, Mn, S e P) foram obtidos por fluorescência de raio-X. Análises mineralógicas foram feitas por difratometria de raio-X e adicionalmente foram determinados os teores de Fe livre por ditionito-citrato-bicarbonato e oxalato na fração argila. Os solos foram classificados segundo a Soil Taxonomy e a WRB/FAO. Para interpretação dos dados, foram feitas análises de estatística multivariada, como Análise de Componentes Principais e agrupamentos (K-means e hierárquico), e correlação de Spearman. O controle geológico assume grande importância na distribuição das classes de solos de Cape Lamb, com Gelisols predominando nos solos de rochas sedimentares e os Entisols nos solos vulcânicos. A geologia também influencia de forma determinante as características dos solos da área, permitindo a subdivisão de três grupos principais: solos sedimentares-vulcânicos; solos sedimentares sulfatados e solos vulcânicos. Em geral, os solos de Cape Lamb apresentam textura arenosa, valores ínfimos de carbono, pH neutro a alcalino e caráter eutrófico. Os solos sedimentares vulcânicos constituem um grupo de solos de contribuição mista, envolvendo solos vulcânicos retrabalhados por processos glaciais e fluviais e solos sedimentares pouco ou nada afetados por sulfatos. Os solos sedimentares sulfatados são os solos mais ácidos de Cape Lamb apresentando o maior grau de intemperismo devido à sulfurização. Outros processos marcantes nos solos de Cape Lamb são a crioturbação, salinização e formação de pavimentos desérticos. Os solos sedimentares sulfatados se caracterizam pelos maiores teores de argila, maior conteúdo de Al 3+ e menor presença de bases. Os baixos teores de P e P-rem tem relação com os altos teores de Fe livre, evidenciando alta capacidade de adsorção de fósforo devido à presença de óxidos de ferro pouco cristalinos. Os solos vulcânicos são os menos desenvolvidos, apresentando caráter esquelético, pouca profundidade e altos teores de areia grossa. São também os mais ricos quimicamente, com destaque para a presença de Ca 2+ e Na. Em relação à mineralogia, destaca-se a presença da jarosita nos solos sulfatados e de minerais ferromagnesianos e zeólitas nos solos vulcânicos. Verificou-se que a crioclastia é o principal processo de intemperismo, evidenciada pela presença de minerais primários na fração argila, principalmente quartzo. A presença de caulinita é indicativa do forte pré-intemperismo das rochas sedimentares sob clima quente e úmido no Cretáceo. A principal classe de solo encontrada foi a “Sulfuric” Haploturbel pela Soil Taxonomy e “Thionic”-Turbic Cryossol pela WRB/FAO, mostrando a dominância de solos com permafrost, feições túrbicas e horizontes sulfúricos, evidenciando a necessidade de inclusão de qualificadores adequados para a classificação de solos bem drenados afetados por sulfatos na Antártica.