Representações e identidades de mulheres gordas em práticas midiáticas digitais: tensões entre vozes de resistência e vozes hegemônicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Carvalho, Alexandra Bittencourt de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/21235
Resumo: É notável a preocupação com o corpo que uma parcela da sociedade contemporânea possui. Ele é visto como referência de bem-estar, sucesso profissional, financeiro e amoroso assim como performatizador de padrão de beleza. Os discursos que permeiam os dias de hoje sobre os corpos estabelecem uma concepção de que estes devam ser saudáveis, magros, desejáveis, brancos, ricos e belos. Portanto, sentidos negativos são gerados e discursos são disseminados sobre os corpos gordos constituindo a base simbólica da gordofobia, um preconceito baseado no tamanho e peso das pessoas. Tal preconceito tem como efeito a repulsa destes corpos, configurando-os como um corpo abjeto (BUTLER, 2016). Em contrapartida, sentidos positivos que combatem a gordofobia emergem, fazendo com que se ressignifiquem os corpos gordos, construindo discursos a favor da diversidade dos corpos e da autoaceitação. A pesquisa, então, tem como objetivo, a partir da Análise do Discurso Crítica de cunho anglo-saxã (FAIRCLOUGH, 2001[1992]; CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2003) intercruzada às teorias sobre corpos (BORDO, 1997; LE BRETON, 2010; BUTLER, 2016), aos Fat Studies (HARJUNEN, 2009; ROTHBLUM, 2011) e aos Relatos de si (BUTLER, 2016), uma análise crítica discursiva sobre as representações e identidades que mulheres gordas fazem de si, em relatos em práticas midiáticas digitais, trazendo à tona os sentidos negativos que a sociedade faz delas – e, por extensão, de outras gordas – bem como revelando outros possíveis olhares sobre seus corpos. Assim, investigar quais instituições são responsáveis pela construção negativa de discursos e identidades sobre corpos gordos bem como os responsáveis por combatê-los. Outro interesse é analisar como as representações e identidades dos corpos gordos se modificam quando interseccionadas a outros marcadores sociais como raça, gênero, sexualidade e geração. Nosso corpus é constituído por dez (10) textos digitais, sendo três (3) blogs e uma (1) revista online, respectivamente Gorda e Sapatão, Kiss the Fat Girl, Beleza sem Tamanho e Capitolina. Dividimos a análise em três categorias temáticas: a (des)construção do corpo feio e doente; a criação e transformação das representações e identidades das gordas e o empoderamento. Na primeira categoria, constatamos que as instituições que legitimam os sentidos sobre os corpos gordos como feios são, primeiro, a pornografia, ao construir um ideal de beleza e desejo no corpo tonificado e, segundo, a moda, ao estabelecer o ideal de beleza magro, e, no que concerne à moda plus size, o ideal de um corpo gordo que mais se assemelha ao padrão. Além disso, a biomedicina, a partir da medicalização (HARJUNEN, 2009) dos corpos gordos, homogeneizando-os como doentes e, portanto, alvo de cura. A instituição que ressignifica tais corpos é a da militância gorda, inserida nos movimentos feministas de vertente interseccional, trazendo os corpos gordos como belos e saudáveis. Na segunda categoria, as instituições que criam as representações e identidades negativas sobre os corpos gordos são o governo, a partir de políticas de acessibilidade que não contemplam todos os corpos e a moda ao criar um padrão de gorda para a moda plus size. A transformação se dá nos relatos de si, também na militância gorda, a partir da representatividade de mulheres gordas como exemplos a serem seguidos e da autoaceitação. Na terceira categoria, representada pela mesma instituição de ressignificação e transformação das representações e identidades, o empoderamento é compreendido ainda na esfera do desejo, através, principalmente, da autoaceitação e da crítica às feminilidades. Por fim, contatamos que, a partir do entrecruzamento do cenário da negociação da diferença de Fairclough (2003) aos marcadores sociais da diferença, quanto maior é a intersecção destes nos relatos de si, mais temáticas são problematizadas, acentuando as diferenças, e revelando lutas de significado. No que tange à identidade de gênero, constatamos que não há relatos de mulheres trans gordas, uma forma de suprimir as diferenças e emergir relações assimétricas de poder dentro dos relatos de si de gordas nas práticas midiáticas digitais.