#Gordofobiamédica: uma análise discursiva de sentidos em disputa sobre ser gordo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Caetano, Virgínia Barbosa Lucena
Orientador(a): Vinhas, Luciana Iost
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/14370
Resumo: Nos últimos anos, as redes sociais têm se mostrado espaços muito produtivos para a circulação de discursos de denúncia sobre formas de violência legitimadas. Dentre eles, destacamos a campanha #gordofobiamédica, que visa a discutir sobre a negligência médica a que corpos gordos são submetidos no sistema público e privado de saúde. Tendo em vista que tal violência é naturalizada pela formação social capitalista e, por isso, silenciada pelas mídias de massa e pouco debatida em outros espaços sociais, usuários de redes sociais, por meio da identificação com a hashtag #gordofobiamédica, passaram a publicar, em suas contas pessoais e em perfis de militância anti-gordofobia e ativismo gordo, relatos de situações vividas em visitas a consultórios médicos, ambulatórios ou hospitais. As histórias incluem situações de negligência médica, humilhação, violência física e verbal, em razão da forma corporal dos sujeitos-pacientes, além de denúncias sobre a falta de investimento em infraestrutura, nos serviços de saúde, para atendimento de pessoas gordas. Partindo disso, tomamos como objeto de estudo o discurso de sujeitos gordos sobre a gordofobia médica. Selecionamos como corpus para análise testemunhos sobre gordofobia médica que circulam no Instagram e nos propomos, com base nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso Materialista, a analisar a forma como os processos de subjetivação de sujeitos gordos são afetados pela disputa de sentidos sobre o ser gordo na atualidade e os efeitos dessa disputa na circulação de sentidos sobre o corpo gordo nas redes sociais. Para tanto, a presente tese é composta por quatro capítulos que exploram diferentes aspectos de funcionamento do arquivo. O primeiro capítulo contextualiza a discussão proposta, apresenta os materiais que serão analisados e sintetiza o caminho de pesquisa percorrido até a presente tese e que foi determinante para a seleção do recorte temático e teórico aqui apresentado. Em seguida, no segundo capítulo, buscamos refletir sobre as condições de produção e circulação dos testemunhos em análise, discutindo sobre a constituição de um lugar enunciativo (Zoppi-Fontana, 1999) a partir do qual o sujeito gordo pode colocar em circulação sentidos sobre si e sobre o seu corpo não previstos pela formação discursiva dominante, lugar enunciativo esse que se constitui a partir do funcionamento das redes sociais, como lugar que permite a reunião de um conjunto de vozes dissidentes que, em outros espaços, costumam ser silenciadas. No terceiro capítulo, por sua vez, nos dedicamos a observar o imaginário sobre o corpo gordo colocado em circulação a partir do discurso médico, tal como reproduzido pelos sujeitos vítimas de gordofobia, e os efeitos desse imaginário no que consideramos, a partir de Carrenho (2021), como funcionamento testemunhal. Por fim, o quarto capítulo aborda a análise do processo no qual a ausência de escuta presente na interação entre médico e paciente converte-se em uma demanda por escuta, que orienta não apenas a emergência dos testemunhos, mas também permeia o processo de subjetivação presente nos discursos em análise. A partir das análises desenvolvidas, chegamos à consideração de que os testemunhos devem ser compreendidos como forma de resistência, uma vez que, ao expor as experiências de negligência, estigmatização e preconceito, os testemunhos revelam um descompasso entre a atuação médica padrão e as necessidades específicas dos pacientes gordos, discordância essa que não se traduz apenas como uma negação da prática médica, mas também como um ato de denúncia que desafia os sentidos organizados pela formação discursiva dominante.