“Resistir e construir história”: etnoindicadores e indicadores de avaliação dos impactos do rompimento da barragem do Fundão em agroecossistemas na bacia do rio Doce

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Cardona Casas, Nancy Aidé
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Solos e Nutrição de Plantas
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br/handle/123456789/33017
https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2024.677
Resumo: Na bacia do rio Doce, o rompimento da barragem de Fundão, de responsabilidade da Samarco/Vale/BHP Billiton, foi considerado um dos maiores desastres ecológicos da história no mundo, em termos de magnitude e abrangência socioambiental. Para mitigar os problemas causados pelo rompimento, cientistas e técnicos de diversas instituições têm realizado vários estudos e proposto diversas ações. Entretanto, o conhecimento das pessoas atingidas sobre o problema não é considerado na busca de soluções e elas continuam inseguras sobre o consumo de alimentos produzidos em seus agroecossistemas, localizados nas várzeas impactadas. A compreensão e a busca de soluções para problemas ambientais requerem também o olhar e conhecimento dos sujeitos que convivem com eles. Os etnoindicadores do ambiente, elaborados a partir do conhecimento destes sujeitos, são sensíveis para avaliar as mudanças ambientais e quando integrados aos conhecimentos acadêmicos permitem avaliações e compreensões úteis para a tomada de decisões estratégicas de mitigação de problemas ambientais, tais como os provocados pelo rompimento de barragens de rejeito. O objetivo geral dessa pesquisa foi avaliar coletivamente o risco ambiental nos agroecossistemas atingidos pelo rejeito decorrente do rompimento da barragem de Fundão e instrumentalizar as famílias para que elas mesmas pudessem tomar decisões sobre o consumo de alimentos cultivados em agroecossistemas impactados. Para tanto, valeu-se da abordagem teórico metodológica da pesquisa-ação e utilizou-se de métodos oriundos das ciências ambientais e sociais. Entrevistas semiestruturadas e caminhadas transversais permitiram identificar trinta e dois etnoindicadores de alterações ambientais. O solo apresentou o maior número de etnoindicadores associados e o etnoindicador diversidade de peixes a maior frequência. A produtividade, o desenvolvimento das plantas e a diversidade de peixes foram considerados os indicadores mais sensíveis de avaliação dos impactos, pois integram outros indicadores associados ao solo e à água e estão vinculados à sobrevivência das pessoas em seus territórios. Os etnoindicadores devem ser considerados na tomada de decisão sobre o consumo de alimentos e as medidas mitigadoras em territórios impactados pelo rejeito de barragens ou outros desastres ambientais. Entretanto, eles podem e devem ser complementados com outros indicadores. Para isto o conteúdo de elementos potencialmente tóxicos em solo e plantas foi avaliado. As análises de laboratório permitiram comprovar a presença de arsênio, bário, cobalto, cromo, cobre, níquel, chumbo, vanádio, zinco, em solos e de bário, cobre, níquel e zinco em raízes de mandioca, tanto nas áreas impactadas como nas áreas não impactadas pelo rejeito. Embora os teores encontrados não tenham superado o valor máximo permitido pelas leis brasileiras, os valores de referência mostram-se limitados para avaliar o risco à saúde humana e a qualidade dos solos em áreas contaminadas. Além disso, mesmo com baixos teores, a presença de elementos potencialmente tóxicos nos solos impactados pode ser problemática por causa do baixo teor de matéria orgânica, à maior proporção de silte, à falta de estrutura e organismos destes solos. Devido a perda de qualidade física, química e biológica, no solo com rejeito menos (teores de elementos) pode ser mais (tóxico), enquanto no solo não impactado mais (teores de elementos) pode ser menos (tóxico). Os indicadores químicos avaliados e os etnoindicadores identificados foram colocados em diálogo por meio de cinco intercâmbios agroecológicos. Os intercâmbios, articulados com um processo de ATER (assessoria técnica e extensão rural) agroecológica, contribuíram com o processo de pesquisa-ação na medida que permitiram a construção de conhecimento útil para as pessoas atingidas tomarem decisões sobre o manejo dos seus solos, sobre sua alimentação e sobre sua permanência no território. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão promovida pelos intercâmbios permitiu a realização de uma pesquisa contextualizada, a superação das limitações dos prazos de execução de projetos institucionais e a elaboração de novas questões de pesquisa, gerando um novo ciclo de ação reflexão. O conhecimento dos agroecossistemas, aprimorado com o tempo, permite que as famílias das comunidades atingidas pelo desastre de Fundão identifiquem com precisão as mudanças ambientais ocorridas com o desastre. Desconsiderar esse conhecimento e analisar a problemática ambiental utilizando apenas os conhecimentos técnicos e acadêmicos leva à implementação de medidas não efetivas que podem, em algumas situações, piorar a qualidade dos ambientes impactados, em geral, e dos solos de forma particular, e que prejudicam novamente às vítimas. Houve perda de qualidade dos solos impactados e sua recuperação deve ser promovida e monitorada continuamente, utilizando o arcabouço metodológico da pesquisa-ação e indicadores químicos, físicos, biológicos e etnoindicadores. Com os diálogos promovidos durante os intercâmbios, as pessoas atingidas ficaram mais à vontade para decidir se podem ou não se alimentar dos produtos cultivados nos solos impactados. Palavras-chave: Conhecimento ecológico tradicional. Extensão universitária. Metais pesados. Metodologias participativas. Qualidade do solo.