“E a bela ainda é fera” - análise discursivo-crítica das performatividades de gênero nas entrevistas da revista Roadie Crew

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Pires, Gracielle Fonseca
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/21242
Resumo: A mídia especializada no gênero musical metal, especificamente as revistas impressas, está entre as instituições culturais cujas funções, dentre outras, são: promover, criar, articular e circular valores e discursos sobre música. Dessa maneira, possuem papel central na cultura do metal, a qual fazem ser vista e, ao mesmo tempo, ajudam a construir. Além disso, as revistas especializadas em metal fazem parte da crítica, ou recepção especializada em música, um dos pilares para a constituição do Cânone da Música Ocidental (CITRON, 1993). Dadas estas atribuições, torna-se evidente a importância da investigação destas publicações, de maneira que se possa trazer contribuições para a compreensão de mudanças sociais e problemas parcialmente discursivos dentro da cultura do metal. Dentre as questões mais urgentes de discussão no meio, destacam-se as relações de gênero. Em trabalhos pioneiros nos estudos sobre o metal, como o de Walser (1993), já se falava que a cultura produzida por este gênero musical “reproduzia valores patriarcais”. Pesquisas posteriores, como as de Hill (2013, 2016) e Martins (2011) mostraram como as revistas especializadas em metal tendem a reproduzir preconceitos de gênero e fomentar relações assimétricas de poder, excluindo ou objetificando “mulheres” em seu discurso. Recentemente, Clifford-Napoleone (2016) ampliou a abordagem da questão, a partir da discussão da cultura do metal sob o viés queer. Assim, acrescentou maior complexidade às discussões anteriores, problematizando gênero de uma perspectiva não binária, e trazendo novos questionamentos para as pesquisas futuras. Diante deste quadro de novos esforços teóricos para a compreensão das questões de gênero e metal, a presente pesquisa tem como objetivo analisar as performatividades de gênero (BUTLER, 2016 [1990]) realizadas em um corpus de 14 entrevistas da revista Roadie Crew, publicação impressa especializada em metal de alcance nacional. Para tanto, nosso trabalho se alinha aos estudos discursivos críticos de Chouliaraki e Fairclough (1999), Fairclough (2001; 2003), por meio dos quais realizamos uma análise discursiva crítica, textualmente orientada, apoiada nas recorrências encontradas no processamento textual via Antconc e também no Subsistema de Atitude, a partir da teoria da Valoração (WHITE, 2004), bem como conduzimos as análises suportadas em teorias sociais de Thompson (2002), sobre os modos de operação das ideologias, e nos estudos sobre gênero e música (CITRON, 1993; MARTINS, 2011; HILL, 2013, 2016; CLIFFORD- NAPOLEONE, 2015). Nossa proposta de abordagem busca problematizar as contribuições da musicologia feminista, a partir da Teoria Queer, para complexificar o entendimento das relações entre performatividade de gênero e canonização musical no discurso da revista especializada em questão. Por meio das análises linguístico- discursivas, foram verificados elementos potencialmente promotores de iteração da heteronormatividade, tais como os processos relacionais atributivos ligados à beleza, temperamento problemático e representações particulares de feminilidades para os corpos femininos, enquanto processos materiais e relacionais levaram à promoção de excelência, profissionalismo e competência para a produção realizada por corpos masculinos. Desta maneira, verificou-se a presença do discurso musical parcialmente generificado. Percebeu-se, também, o funcionamento da entrevista como uma tecnologia discursiva que se utiliza de dispositivos normatizadores, os quais operam dentro da matriz de inteligibilidade heterossexual.