As mulheres nas Ciências Agrárias: desafios face ao regime de gênero e à divisão sexual do trabalho
Ano de defesa: | 2023 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Viçosa
Economia Doméstica |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://locus.ufv.br//handle/123456789/31568 https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2023.503 |
Resumo: | A Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi inaugurada há quase um século, apresentando um perfil essencialmente agrário e masculino. Nos anos 2000, com a implementação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), ocorreu uma ampliação dos cursos oferecidos pela instituição, tanto no campo da Saúde quanto no campo das Ciências Humanas. Desta forma, a UFV tornou-se mais diversificada em termos de suas áreas de excelência, não apenas na graduação, mas também na pós-graduação. Todavia, no que diz respeito ao quadro docente, este vem se mantendo, ao longo dos anos, predominantemente masculino, principalmente no campo das Ciências Agrárias. Em vista disso, o presente estudo teve como objetivo principal compreender de que forma a “divisão sexual do trabalho”, entranhada na nossa sociedade, assim como o “regime de gênero”, institucionalizado no Centro de Pesquisa da Universidade analisada, apresentam- se com potencial de interferência na carreira acadêmica de pesquisadores e pesquisadoras. O Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFV caracteriza-se por ser o centro com os maiores percentuais de desigualdade de gênero na composição do quadro docente da universidade. A teoria do “regime de gênero”, de Raewyn Connell, e a concepção de “divisão sexual do trabalho”, de Helena Hirata e Danièle Kergoat, foram estruturantes das análises sobre a incidência de fatores internos e externos à instituição, potencialmente associados à manutenção das assimetrias de gênero neste campo do conhecimento científico. Em termos metodológicos, foi feita uma pesquisa de levantamento de dados secundários em arquivos e fontes de informação fornecidos pela UFV, como também foram aplicados questionários e realizadas entrevistas semiestruturadas com professores e professoras do CCA/UFV. As informações obtidas foram examinadas com o auxílio dos softwares Statistical Software for Data Science (STATA) e Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRaMuTeQ). Os resultados mostraram que: i) as docentes pesquisadas ainda estão sub-representadas nos departamentos que compõem o CCA, bem como nos cargos de chefia e direção do referido Centro; ii) embora haja paridade entre o número de mulheres que se titulam no campo das Ciências Agrárias, considerando a maioria dos cursos do Centro,o percentual de professores aprovados em concurso é muito maior que o percentual de professoras; iii) as bancas examinadoras de concursos públicos para carreira docente do magistério superior têm sido preenchidas, majoritariamente, por docentes do sexo masculino; iv) foram relatados comportamentos sexistas direcionados às docentes do CCA; v) uma significativa parcela de docentes-pesquisadoras optou pela não maternidade, sendo este percentual muito menor entre os docentes-pesquisadores, confirmando os dados obtidos na literatura que revelam que o casamento se constitui em um prêmio para os homens e uma sobrecarga para as mulheres; vi) as poucas docentes-pesquisadoras que conseguiram se tornar referências em suas áreas de atuação relataram que este feito foi fruto da “conciliação” que tiveram que construir, articulando o protagonismo profissional com a responsabilização pela criação dos filhos, assim como nas questões relacionadas aos cuidados da família e de gestão dos trabalhos domésticos, o que lhes gerou uma imensa sobrecarga de trabalho; vii) o tempo de trabalho doméstico assumido por docentes-pesquisadores e docentes-pesquisadoras foi substancialmente desigual, predominando entre as últimas; e viii) levar trabalho para casa apresentava uma dimensão diferente em termos de cobrança e sentimento de culpa entre os docentes-pesquisadores e as docentes-pesquisadoras. Assim, a presente pesquisa concluiu que o regime de gênero presente no âmbito do CCA/UFV expressa a dimensão cultural da divisão sexual do trabalho presente na nossa sociedade. No entanto, as docentes-pesquisadoras são tratadas como se a condição de mulher nada lhes custasse, como se desfrutassem das mesmas condições para o trabalho que os homens têm, como se não carregassem e vivessem cotidianamente tantas situações de desigualdade de gênero, entre elas a maternidade, que institui uma drástica ruptura na carreira das docentes. Recomenda-se, por fim, com respaldo nesta pesquisa, a instituição de uma política de gênero, em âmbito local, que acompanhe o despertar, ainda que tardio, das instituições de pesquisa, como a CAPES e o CNPq, em âmbito nacional. Palavras-chave: Carreira docente. Magistério superior. Gênero. Ciência e maternidade. |