Desfechos nutricionais em crianças brasileiras expostas à infecção congênita por Zika vírus e o impacto familiar e social em municípios da Zona da Mata mineira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Donateli, Cíntia Pereira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Ciência da Nutrição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br//handle/123456789/32257
Resumo: A infecção pelo Zika vírus acarretou uma epidemia alarmante que afetou especialmente o grupo materno-infantil. Mesmo com o fim da emergência de saúde pública declarada em 2016, o Zika vírus e seus desfechos associados continuam a ser um desafio significativo para a saúde pública. Embora já se conheça alguns desfechos associados a infecção congênita como a presença de microcefalia grave, calcificações intracranianas e outras anomalias cerebrais, a infecção pelo Zika ainda não foi totalmente caracterizada e há poucos estudos avaliando os aspectos nutricionais deste grupo, o que é de suma importância visto o impacto da nutrição no crescimento, desenvolvimento e o surgimento de complicações na vida adulta. O diagnóstico intrauterino de um filho com alguma deficiência gera momentos conflituosos, de choque e negação, além do medo, frente as idealizações da gravidez. Essa condição interfere diretamente na rotina familiar e social. Tendo em vista os riscos relacionados ao crescimento e desenvolvimento das crianças acometidas pela síndrome congênita do Zika vírus, o presente estudo objetivou avaliar os desfechos nutricionais em crianças brasileiras expostas à infecção congênita por Zika vírus e o impacto familiar e social em municípios da Zona da Mata Mineira, Brasil. Trata-se de um estudo com uso de dois bancos de dados: a) Estudo de coorte retrospectiva com dados secundários oriundos do Registro de Eventos em Saúde Pública – Microcefalia (RESP-Microcefalia). Foram incluídos neste estudo 2.777 casos confirmados de recém-nascidos e crianças com síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika em todo o Brasil, nos anos de 2015 a 2018. As variáveis dependentes estudadas foram: baixo peso ao nascer, prematuridade e pequeno para idade gestacional (PIG). As variáveis independentes estudadas foram: idade materna, raça, região do país, alterações congênitas, sexo do recém-nascido, tipo de gravidez, tempo de detecção da microcefalia, presença de exantema na gestação e critério diagnóstico. Realizou-se estatística descritiva para conhecer a incidência do baixo peso ao nascer, da prematuridade e do PIG. Optou-se pela regressão de Poisson com variância robusta. A medida de associação foi o risco relativo (RR) e seu respectivo intervalo de confiança (IC) de 95%. O nível de significância adotado foi α de 5%. A partir das análises os fatores independentemente associados ao PIG foram tipo de gravidez, o período de detecção da microcefalia, a idade materna e a presença de exantema na gestação. Ao baixo peso foram associados o sexo do recém-nascido, o tipo de gravidez, a presença de microcefalia, a presença de exantema na gestação e a região do país. E a prematuridade associou-se ao tipo de gravidez, as alterações congênitas do recém-nascido e a região do país. b) Estudo transversal, com abordagem quali-quantitativa realizado entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019 em cinco municípios da Zona da Mata de Minas Gerais com crianças cujas mães foram infectadas por Zika vírus durante a gestação, total de 16 mães entrevistadas e 14 crianças avaliadas. Para avaliação do estado nutricional foram analisados os valores em score-z dos índices antropométricos: peso/estatura (P/E), peso/idade (P/I) e Índice de Massa Corporal/Idade (IMC/I). Para avaliação do crescimento utilizou-se o índice estatura/idade (E/I) e procedeu-se ao cálculo da relação cintura-estatura (RCE). Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (parecer nº 2.705.484). Os achados desse estudo mostraram que 92,86% das crianças eram eutróficas na avaliação do índice P/I e nos índices antropométricos de IMC/I e P/E, 78,57% e 85,72%, respectivamente apresentavam risco de sobrepeso. Para o índice E/I, 92,86% das crianças apresentaram estatura adequada para a idade. Quanto ao índice RCE, a média foi de 0,53. Na análise qualitativa realizamos entrevistas para avaliar o impacto familiar e social decorrente da infecção pelo Zika vírus durante a gestação. Foram identificadas cinco categorias dos impactos após a infecção por Zika vírus durante a gestação: efeitos a nível familiar e profissional; efeitos nas relações sociais; efeitos a nível pessoal e com o companheiro; efeitos sobre a maternidade e efeitos a nível do acesso à saúde. Os achados deste estudo revelam que a atitude de vigilância do estado nutricional da gestante e do recém-nascido em programas destinados ao acompanhamento do pré-natal e pós-natal podem minimizar os desvios nutricionais, tanto a carência quanto o excesso, e promover uma melhor qualidade de vida. Além disso a reorganização do serviço deve ser proposta entre os diferentes atores a fim de que novos canais de comunicação sejam criados para minimizar as desigualdades sociais existentes e melhorar a assistência à saúde.