Resumo: |
Objetivo: Investigar sobre os mediadores do efeito do programa de prevenção ao uso de drogas #Tamojunto2.0 e outros fatores associados ao consumo de substâncias em uma amostra de adolescentes de escolas públicas brasileiras. Métodos: Este trabalho utilizou dados do ensaio controlado randomizado que avaliou a efetividade do programa de prevenção ao uso de drogas de base escolar #Tamojunto2.0 em 2019. Os participantes (N = 5208) foram alunos de oitavo ano do ensino fundamental II de escolas públicas brasileiras de Eusébio, Fortaleza e São Paulo. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi desenhado a partir de outros instrumentos previamente utilizados em estudos de avaliação do efeito de programas de prevenção ao uso de drogas tanto no Brasil como no exterior. O questionário foi autoaplicável na sala de aula, sem professores presentes e com a coordenação de uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foram coletados em três tempos (baseline, aos 9 meses e aos 26 meses) dados sociodemográficos, uso de drogas, atitudes sobre o consumo de drogas, crenças comportamentais sobre álcool e maconha, habilidades de tomada de decisão, habilidades de recusa, conhecimentos sobre drogas, sintomatologia psiquiátrica, e outras questões sobre bullying, satisfação com a imagem corporal e transtornos alimentares. Devido ao isolamento social produzido pela pandêmica de Covid-19, a terceira onda de coleta de dados foi realizada através de um questionário online. Para a análise dos dados, utilizou-se métodos de equações estruturais (análise confirmatória fatorial, classes latentes e análise de mediação), modelos de diferenças em diferenças (modelos de efeitos mistos multinível) e regressões lineares, logísticas e multinomiais multivariáveis. Resultados: Observou-se a capacidade preditiva da escala de atitude sobre o consumo de drogas, através da (1) associação direta entre as atitudes positivas e a chance de ser poli usuário de drogas (aOR= 8.07, 95%CI = 7.59;8.55), e da (2) associação inversa entre as atitudes negativas e a chance de ser poli usuário (aOR= 0.70, 95%CI = 0.57;0.83). A análise dos modelos multiníveis de efeitos mistos mostrou que o programa #Tamojunto2.0 incrementou os conhecimentos sobre drogas (Coef.= 0.26, 95%CI= 0.17; 0.34) e as crenças negativas/não-positivas sobre álcool (Coef.= 0.24, 95%CI= 0.05; 0.42). A análise de mediação sugere que o programa #Tamojunto2.0 foi efetivo em retardar o consumo de álcool via o aumento das crenças negativas e não-positivas sobre o álcool (Coef.= -0.024, 95%CI= -0.043; -0.006). Por fim, a análise das mudanças produzidas pela pandemia de COVID-19 no consumo de sustâncias mostrou uma diminuição generalizada no uso, mas aqueles que iniciaram, mantiveram ou aumentaram seu consumo, tiveram mais chances de apresentar problemas de conduta, desatenção-hiperatividade, problemas como seus pares e problemas emocionais. Conclusões: Os resultados sugerem que as variáveis mediadoras dos programas de prevenção têm papel preditor na redução no uso de drogas entre adolescentes. Ao mesmo tempo, mostrou-se que o programa foi efetivo em incrementar os conhecimentos sobre drogas e as crenças negativas/não-positivas sobre álcool. No entanto, foi demonstrado que #Tamojunto2.0 efetivamente previu a iniciação do uso de álcool apenas através do incremento nas crenças negativas/não-positivas sobre álcool. Por fim, foi observado uma diminuição generalizada no consumo de sustâncias durante a pandemia de COVID-19, mas também foram identificados adolescentes que iniciaram, mantiveram e incrementaram seu consumo, sendo aqueles que tiveram mais chances de apresentar sintomatologia de problemas psiquiátricos. Estes achados podem ser utilizados para aprimorar os programas preventivos, já que evidenciou-se que desconstruir as crenças positivas e incrementar as negativas sobre o uso de drogas, pode ser uma estratégia com maior efetividade para prevenir o consumo na população adolescente. Futuras pesquisas podem dar maior claridade ao longo prazo sobre o efeito da pandemia no consumo de drogas entre os adolescentes e sua saúde mental, além de pesquisar sobre o efeito de programa #Tamojunto2.0, no período de pós-pandemia. |
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