Nem sempre sim, nem sempre não: os encontros trabalhadores e usuários em uma unidade básica de saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Melo, Sonia Maria de [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=2893522
http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/48168
Resumo: Introdução. A rede atenção básica tem sido pensada como a principal porta de entrada para o SUS e a coordenadora do cuidado a ser realizado nas redes de atenção à saúde, conforme recomendado pela política nacional de saúde. Nesse sentido, são necessários estudos que consigam caracterizar melhor se e como a rede de unidades básicas garante o acesso dos usuários aos cuidados primários de saúde e, como desdobramento, aos demais níveis do sistema de saúde. Metodologia. Vivenciar o cotidiano de uma unidade básica de saúde foi a mola propulsora para a construção deste estudo de base etnográfica, voltado para uma melhor compreensão de como se dá o acesso dos usuários a uma unidade básica de saúde do tipo ?tradicional?. Para tanto, o estudo tomou como analisador os desfechos dados às demandas que os usuários trazem à unidade, tendo como ponto de observação privilegiado o encontro trabalhador/usuário (espaço intercessor). Para a caracterização das demandas foram utilizadas 109 cenas registradas pela pesquisadora, durante os 12 meses em que permaneceu na unidade básica de saúde estudada, nas quais os usuários apresentavam suas demandas. Resultados. Os desfechos desses encontros entre trabalhadores e usuários foram organizados em duas categorias: demanda atendida (quando o usuário obteve exatamente o que solicitou ou foram feitas ofertas alternativas pelos trabalhadores para, de algum modo, contemplar as demandas apresentadas) e demanda não atendida (quando o usuário deixou a unidade sem ter a sua demanda atendida e nenhuma oferta alternativa lhe foi apresentada). Também foram consideradas as áreas de sobreposição entre as duas categorias anteriores: situações nas quais o usuário trouxe demandas múltiplas e/ou complexas que foram atendidas de forma incompleta ou insatisfatória. O estudo mostrou como em várias situações a ?pressão? dos usuários é fundamental para que a demanda seja atendida, mesmo quando o recurso, aparentemente, não está disponível na unidade. As principais causas para o não atendimento da demanda trazida pelo usuário foram: 1. A oferta de serviços é menor que a demanda, especialmente no caso de consultas médicas; 2. Ausência de uma escuta qualificada e limitações na autonomia da equipe da recepção; 3. A rigidez do processo de territorialização; 4. O posicionamento e o protagonismo dos usuários quando recusam a oferta que é feita, em particular quando essa não coincide com sua demanda; 5. A existência de uma lógica programática que dificulta o acesso de pacientes que não se encaixam nas prioridades estabelecidas pelo programa; 6. A existência de regras para encaminhamentos às especialidades e entrega de medicamentos e insumos; 7. A falta de alguns insumos. Discussão. A análise dos desfechos permitiu verificar tanto as dificuldades presentes no cotidiano das equipes de saúde, como reconhecer a construção de arranjos e estratégias pelos trabalhadores na busca de atenderem as demandas trazidas pelos usuários. Assim, nem sempre sim, nem sempre não, expressa a multiplicidade de respostas que podem surgir nos encontros entre trabalhadores e usuários, um jogo de final aberto, embora acontecendo em um campo marcado por muitas normas e restrições. O fato da unidade estudada ser "tradicional", em particular por não contar com acolhimento e agentes comunitários de saúde, além de não dispor de uma oferta de consultas médicas conforme os parâmetros adotados pelo próprio Ministério da Saúde, influenciaram os resultados encontrados. Conclusões. Embora vários autores enfatizem a potência existente no encontro trabalhador-usuário - um espaço intercessor - há que se considerar que ele é atravessado e constituído por múltiplas lógicas que definem o quanto o trabalhador poderá, ou não, atender as demandas trazidas pelos usuários, entre elas: o ainda hegemônico modelo biomédico, que preside os processos de trabalho e modela as demandas dos usuários; a formação técnica ou profissional do trabalhador; os processos da Gestão, que interferem e buscam formatar, de algum modo, estes espaços; e, claro, as condições concretas de trabalho, como os limites do trabalhador para fazer frente às demandas. A principal contribuição deste estudo foi tornar visível o cotidiano da unidade estudada, seus limites e potências, fomentando a reflexão sobre o que atravessa a política, desde a sua formulação até a sua execução, quando, enfim, o usuário se encontra com o trabalhador que, naquele momento, encarna todos os anos de construção de uma política de atenção básica à saúde, que se define como universal, resolutiva e de fácil acesso aos usuários.