[In] Segurança alimentar e nutricional entre adolescentes do Programa Bolsa Família

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Bernardes, Milena Serenini [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/65915
Resumo: Introdução: As políticas públicas brasileiras de combate à fome e de promoção da segurança alimentar nutricional são internacionalmente reconhecidas, e culminaram na saída do país do Mapa da Fome em 2014. O Programa Bolsa Família (PBF) foi uma das principais estratégias desta agenda, sendo estruturado para promover o acesso a direitos sociais como saúde e educação, e com foco nas famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. No entanto, a sequência de decisões políticas ineficazes para a agenda de segurança alimentar dos últimos anos e o surgimento da pandemia da covid-19 agravaram a situação de insegurança alimentar (IA) no Brasil. Atualmente, 58,7% da população convive com algum grau de insegurança alimentar. Sabe-se que a IA vivenciada durante a adolescência associa-se a prejuízos físicos, mentais e emocionais e compromete o crescimento e desenvolvimento, com consequências que podem perdurar até a fase adulta. Objetivo: Analisar a situação de insegurança alimentar e seus efeitos na saúde de adolescentes participantes do Programa Bolsa Família do município de Lavras (MG). Métodos: Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa, com 188 adolescentes pertencentes a 114 famílias participantes do PBF. Foram coletados dados referentes ao estado nutricional dos adolescentes (peso, estatura, consumo alimentar, dosagem de hemoglobina), percepção e nível de IA a partir da ótica dos (as) responsáveis (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA) e dos (as) adolescentes (Escala Curta de Insegurança Alimentar validada para adolescentes brasileiros), características socioeconômicas e demográficas, e estratégias dos (as) adolescentes para lidar com a IA. O teste Kappa de Cohen (κ) foi utilizado para análise de concordância dos constructos de segurança alimentar. Para análise qualitativa foi utilizado o referencial teórico da Análise de Conteúdo. Esse estudo é parte integrante do projeto “Programa Bolsa Família: avaliação da Segurança Alimentar e Nutricional das famílias participantes e acompanhamento das condicionalidades de saúde sob a ótica dos profissionais”, financiado pelo CNPq e aprovado pelo Comitê de Ética. Resultados: Os resultados desta tese são apresentados em três artigos científicos. Artigo 1: Foi observada prevalência de anemia de 26% entre os (as) adolescentes, caracterizado como problema de saúde pública de grau moderado. A presença de anemia foi associada ao consumo de alimentos ultraprocessados. Artigo 2: A partir das entrevistas em profundidade chegou-se a quatro categorias: i) “A fome não é só a vontade de comer”: adolescentes percebem a variação da qualidade e da quantidade da alimentação ao longo do mês nos domicílios, e carne e frutas são citados como alimentos de difícil acesso; ii) “ O fantasma da fome: presente, passado e futuro”: todos os (as) adolescentes se preocupam com a possibilidade do alimento faltar em casa, e a vivência da fome na infância parece intensificar essa preocupação; iii) “Um por todos e todos por um: estratégias para alívio da insegurança alimentar”: os (as) adolescentes desenvolvem estratégias para mitigar a IA no domicílio, como por exemplo, reduzir a própria quantidade de alimentos ingeridos; iv) “Estamos seguros?”: as mães desconhecem a maior parte das estratégias desenvolvidas pelos adolescentes para lidar com a fome, e desacreditam que seus filhos se preocupem de forma significativa com a possibilidade do alimento acabar dentro de casa. Artigo 3: A prevalência de IA percebida pelos adolescentes foi de 42,7%, e de 79,8% entre os seus responsáveis. Houve associação positiva entre a IA percebida entre os adolescentes e a renda do domicílio (p=0,008), renda per capita (p=0,046) e consumo de macarrão (p=0,03). Observou-se concordância razoável (k=0,20) quanto à percepção domiciliar da IA dos adolescentes e de seus responsáveis. Conclusão: O aumento expressivo da fome no Brasil exige que a segurança alimentar e nutricional se torne prioridade na agenda de políticas públicas. Considerando a capilaridade e o papel da Atenção Primária à Saúde dentro dos territórios, destaca-se aqui sua posição estratégica no processo de articulação intersetorial e nas ações de vigilância alimentar e nutricional e de promoção à alimentação adequada e saudável. Além da implementação de instrumentos e escalas capazes de aferir a insegurança alimentar na população adolescente, ressalta-se a importância da escuta qualificada, do olhar para as práticas e valores de cada adolescente diante da insegurança alimentar e da fome.