Campanhas políticas de solidariedade: movimentos sociais e doação de alimentos na pandemia de Covid-19

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Silveira, Vicente Carvalho Azevedo da lattes
Orientador(a): Schmitt, Claudia Job lattes
Banca de defesa: Schmitt, Claudia Job lattes, Romano, Jorge Osvaldo lattes, Castro, Camila Penna de lattes, Silva, Marcelo Kunrath lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Departamento: Instituto de Ciências Humanas e Sociais
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/17623
Resumo: A pandemia de Covid-19 desembarcou no Brasil em um cenário de extrema polarização política e de aprofundamento da crise econômica vigente desde 2015, da qual um dos efeitos mais visíveis foi o recrudescimento da fome entre as famílias mais pobres, em grande parte residentes nas favelas e periferias dos grandes centros urbanos. Imediatamente, um grande movimento social se espalhou por todo o país, no qual indivíduos, coletivos e organizações de naturezas variadas estruturaram redes de apoio para distribuir recursos na forma de dinheiro, alimentos e materiais de primeira necessidade. Por meio de diferentes arranjos de campanha, vínculos econômicos e políticos foram criados ou atualizados entre os agentes heterogêneos que compõem o universo abrangente da sociedade civil, ao mesmo tempo em que, nas arenas públicas, os significados e práticas legítimas da solidariedade tornavam-se objeto de disputa. Neste trabalho, realizamos uma etnografia de duas campanhas de doação de alimentos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ambas coordenadas por movimentos sociais organizados: a primeira foi coordenada pelo Movimenta Caxias, articulação entre diversos coletivos de juventude periférica da Baixada Fluminense; e a segunda pelo Movimento dos Pequenos Agricultores, organização de caráter nacional, vinculada aos movimentos camponeses e agroecológicos. Através da participação engajada do pesquisador nas campanhas, das observações de campo, entrevistas semiestruturadas e de extensa pesquisa virtual, investigamos e analisamos os diferentes arranjos de campanha criados por seus coordenadores, no intuito de mobilizar pessoas, recursos e narrativas em torno do alimento e do combate à fome. As diferentes identidades coletivas, trajetórias políticas e repertórios de ação coletiva das organizações envolvidas aportaram características específicas a cada uma das iniciativas, com ênfase em campanhas de doação anteriores, programas sociais governamentais e a construção de circuitos alternativos para a comercialização de alimentos agroecológicos, além dos acúmulos políticos em torno do tema dos alimentos, das experiências de seus militantes e ativistas em territórios dominados por grupos paramilitares e das diversas interações com agentes da sociedade civil e do terceiro setor. Por outro lado, as duas campanhas estiveram conectadas por alguns de seus atores centrais, de modo que a investigação dos fluxos de alimentos e de recursos financeiros nos levou a descobertas sobre a teia de vínculos políticos e econômicos construída a partir delas, levantando debates importantes sobre a conjuntura política brasileira no período pós-pandemia, na qual diferentes projetos políticos e econômicos disputam as interações legítimas entre Estado, sociedade civil e mercados no enfrentamento aos principais problemas sociais brasileiros.