Zeca Pagodinho: a voz da periferia. Rompendo fronteiras ideológicas — circularidade cultural entre o final do séc. XX e início do XXI

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Martins, Fabiane Silva lattes
Orientador(a): Fortes, Alexandre lattes
Banca de defesa: Reist, Stephanie Virginia lattes, Lourenço, Thiago Campos Pessoa lattes, Nascimento, Álvaro Pereira do lattes, Barros, José Costa D'Assunção lattes, Fortes, Alexandre lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em História
Departamento: Instituto de Ciências Humanas e Sociais
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/10099
Resumo: As discussões contidas nesta tese estão ligadas a um grande eixo temático, a luta de representações e o conflito periferia x centro contido nele. São perceptíveis, na construção topográfica dos espaços urbanos, os conflitos sociais, as idiossincrasias da cidade. Neste sentido a periferia abandonada pelo Estado e discriminada pelas bases hegemônicas da sociedade, constrói suas próprias representações e redes de sociabilidade. Inclusive, construindo para si, sua própria imagem, identidade, seus signos e desenvolvendo sua autoestima. Neste cenário a figura de Zeca Pagodinho sintetiza esta construção. Através de uma análise construída a partir da Nova História Cultural é possível perceber a construção de redes de sociabilidade criadas por habitantes da periferia no final do século XX e início do século XXI. Estas redes de sociabilidade configuraram-se em movimentos culturais e artísticos que originaram um novo gênero de samba, mais popularizado, denominado pagode, e por consequência, criam um novo nicho no mercado cultural. A partir de uma abordagem inserida na micro-história, será estabelecido como foco de análise a carreira de Zeca Pagodinho, que conseguiu atravessar as fronteiras estabelecidas entre a periferia e o centro, estabelecendo-se, como ícone da primeira e difundindo entre a segunda um gênero musical antes marginalizado. Zeca se popularizaria com o apoio da mídia e acaba levando o pagode da periferia para o centro ideológico da metrópole carioca. Ao fazer este movimento em direção ao centro, o artista não se desvincula de seu ethos, pelo contrário, faz com que a periferia com suas peculiaridades, passe a ser consumida pelo centro. O partido-alto representa o discurso subalterno e busca uma identidade comunitária, afrodescendente e imersa na ancestralidade da tradição oral e na religiosidade de matriz africana, não sendo somente música e festa, ele representa a corporificação do signo, a junção da tradição de gênese africana à essência da urbe carioca. Neste contexto a figura do malandro, um ente anteriormente deslocado das regras formais, torna-se uma figura socialmente aceita vinculando-se a aspectos de vivacidade, esperteza, simpatia, carisma, ginga, etc., tornando-se a corporificação da imagem do carioca e demonstrando a capacidade de adaptação do subalterno. Zeca torna-se este malandro socialmente aceito, sintetizando a essência do carioca suburbano. Zeca se torna a voz da periferia tanto materialmente, enquanto provedor de oportunidades de divulgação do pagode de partido-alto de anônimos na escolha de seu repertório, quanto imaterialmente por sintetizar a malandragem ao estilo Zé Carioca. Este artista, com sua trajetória, seus trejeitos e com as próprias letras de seus sambas cria relações de pertencimento e extraí de seu fazer artístico a essência do que lhe é semelhante, tornando-se reflexo do seu local de origem.