Caracterização do perfil mineral, lipídico e oxidativo de Biomphalaria glabrata (Mollusca, Gastropoda) infectada experimentalmente por Angiostrongylus cantonensis (Nematoda, Metastrongylidae)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Alves, Vinícius Menezes Tunholi lattes
Orientador(a): Silva, Jairo Pinheiro da
Banca de defesa: Brandolini, Solange Viana Paschoal Blanco, Silva, Claudia Portes Santos, Angelo, Isabela da Costa, Torres, Eduardo José Lopes, Silva, Clélia Christina Corrêa de Melo
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
Departamento: Instituto de Veterinária
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/9694
Resumo: O nematóide Angiostrongylus cantonensis foi primeiramente descrito como parasito de artéria pulmonar de Rattus norvegicus e Rattus rattus em Canton, China. Este helminto tem sido mencionado como principal agente etiológico da meningoencefalite eosinofílica humana, uma metazoonose endêmica no continente asiático e que recentemente, tem-se disseminado para África, Norte e Sul da América e Ilhas do Caribe. Atualmente, o Brasil é considerado área de alto risco ao estabelecimento da angiostrongilíase humana, justificado não somente pela presença de moluscos, mas também roedores naturalmente infectados, que atuam respectivamente como hospedeiros intermediários e definitivos desse parasito, fatores que favorecem diretamente a dinâmica de transmissão da angiostrongilíase neural. Em seu ciclo de vida moluscos atuam como hospedeiros intermediários, possibilitando a partir se sua infecção, o desenvolvimento de formas larvais infectantes ao hospedeiro definitivo. Nos últimos anos, a caracterização de padrões metabólicos de moluscos infectados experimentalmente, tem sido estudada como base para o desenvolvimento de medidas focadas principalmente no controle de patologias transmitidas por estes organismos. Porém, quando nos referimos a modelos experimentais utilizando A. cantonensis e Biomphalaria glabrata, os dados ainda são escassos, o que preocupa, não apenas pela importância do parasito, mas também pela ampla distribuição da espécie B. glabrata no Brasil. Neste estudo, foram observadas alterações no metabolismo mineral, lipídico e oxidativo de B. glabrata, decorrentes da infecção experimental por A. cantonensis. Para isso, foram utilizados moluscos da linhagem pigmentada criados desde a oviposição e mantidos em condições laboratóriais. Foram formados dois grupos: controle (C1, C2, C3) com animais não infectados e infectados (I1, I2 e I3). Os grupos eram compostos por 10 moluscos. Todo experimento foi feito em duplicata, utilizando um total de 120 moluscos. Após 1, 2 e 3 semanas de infecção, 20 moluscos de cada grupo eram dissecados para a coleta da hemolinfa e tecidos. As leituras espectrofotométricas foram realizadas a partir de kits comercias da marca Doles. As dosagens bioquímicas demonstraram que a infecção por A. cantonensis induziu uma diminuição significativa nos conteúdos hemolinfáticos de cálcio após primeira semana de infecção, seguido por um aumento nas concentrações desse íon na segunda semana de estudo. Este cenário foi acompanhado por uma intensa mobilização de CaCO3 na concha de moluscos infectados, possivelmente como tentativa em restabelecer o equilíbrio ácido-base alterado durante o desenvolvimento do parasito. Resultados histopatológicos demonstraram ainda alterações morfológicas na glândula digestiva de moluscos infectados, caracterizadas principalmente na forma de reações granulomatosas e áreas de calcificação metastática. Variações nas reservas de lipídios neutros estocados no complexo glândula digestiva-gônoda foram também demonstradas. A infecção resultou em um decréscimo significativo nos conteúdos de colesterol e no aumento dos níveis de ácido graxo e triacilglicerol após as duas primeiras semanas de infecção. O aumento nos conteúdos de ácido graxo foi associado ao aumento da atividade lipásica, indicando que A. cantonensis induz de fato a ativação de um processo lipolítico durante etapa de desenvolvimento em seu hospedeiro intermediário. Por fim, a infecção de A. cantonensis resultou em mudanças no metabolismo oxidativo de B. glabrata. Além da depleção de reservas polissacarídicas estocadas na glândula digestiva e massa cefalopodal, o parasitismo por A. cantonensis induziu a ativação do metabolismo anaeróbio de seu hospedeiro, resultando não apenas no aumento da atividade da lactato desidrogenase hemolinfática, mas também na redução dos níveis de ácido pirúvico e acúmulo de lactato. Isso representa uma interessante resposta adaptativa do hospedeiro frente à infecção, possibilitando o hospedeiro a partir do metabolismo anaeróbio, gerar energia e ao mesmo tempo mantém seu balanço redox. Adicionalmente, a redução nas concentrações de ácido oxálico observado nos períodos finais do desenvolvimento parasitário, sugere o seu desvio para a gliconeogênese, destacando o envolvimento dessa molécula como precursora na síntese de glicose-6-fosfato. Este cenário metabólico foi acompanhado por uma supressão na fosforilação oxidativa de moluscos infectados (1 e 2 semanas) de infecção, sugerindo uma diminuição na quantidade de mitocôndrias no tecido analisado, ou ainda, na inibição de centros enzimáticos relacionados às reações oxidativas.