Ergonomia e segurança do paciente na prevenção e mitigação de eventos adversos no transporte e transferência de pacientes por maqueiros em uma maternidade de alta complexidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Silva, Aianna Rios Magalhães Véras e
Orientador(a): Carvalho, Ricardo José Matos de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/31671
Resumo: Nos últimos tempos, a segurança do paciente vem se tornando uma preocupação de âmbito mundial, compreendendo, para assegurá-la, uma gama de aspectos a considerar, tais como a cirurgia segura, a identificação do paciente, a higienização das mãos, a prevenção de quedas, o uso seguro de medicamentos, o ambiente seguro de cuidado, entre outros, tornando mais complexo o conhecimento e o controle de todas essas variáveis, quando se trata do gerenciamento dos sistemas de atendimento de pacientes, como hospitais e maternidades, entre outros. A segurança do paciente, assim como as causas dos eventos adversos (EAs) e suas consequências, em maior ou menor grau, têm relação com a qualidade das instalações, dos equipamentos e dos serviços prestados, com o dimensionamento de pessoal para realização dos serviços, com a jornada diária e semanal de trabalho, com a densidade ou intensificação do trabalho, com a complexidade do quadro clínico dos pacientes, com a remuneração dos profissionais, com a gestão da segurança e saúde do trabalhador, com a gestão da infecção hospitalar, entre outros. Nesse contexto, o transporte e a transferência de pacientes realizados por maqueiros no ambiente intra-hospitalar expressa preocupação como atividade suscetível à ocorrência de eventos adversos com os pacientes envolvidos, devido à frequência com que são realizados, bem como a sua complexidade, porque envolve todos os aspectos citados anteriormente. Apesar disto, do tempo de internação prolongado, das consequências aos pacientes e dos custos envolvidos com os eventos adversos, as pesquisas sobre este tema ainda não são abundantes. A ideia de segurança, conforme preconizada por Hollnagel, na abordagem Safety II, ressalta a importância de se analisar o trabalho como é realmente feito ou realizado (“work as done-WAD”), diferentemente de analisar o trabalho como foi imaginado ou prescrito (“work as imagined-WAI”), como é a abordagem Safety I. A abordagem Safety II valoriza o conhecimento e a experiência dos trabalhadores sobre o trabalho que realizam e se interessa sobre como e por que as coisas dão certo (“go right”). A abordagem Safety I, por sua vez, largamente adotada nos sistemas de gestão de segurança das organizações em geral, inclusive hospitalares, centra-se nos aspectos normativos e prescritivos, no conhecimento de especialistas e gestores, e interessa-se por conhecer o porquê de as coisas não darem certo (“go wrong”), a exemplo dos modelos de análise de riscos do trabalho e de erros utilizados. O trabalho real do maqueiro é muito mais do que transportar e transferir o paciente de um local a outro. Consiste em transportar e fazer transferência do paciente com eficiência e segurança, e isto envolve a consideração, por parte dos maqueiros, dos aspectos tecnológicos e organizacionais, do layout das instalações, das condições de saúde do paciente e das condições de saúde e estratégias cognitivas do próprio maqueiro, para se evitar eventos adversos com os pacientes. A Ergonomia apresenta-se, neste contexto, como um campo científico e metodológico fundamental que, através da Análise Ergonômica do Trabalho, permite que se compreenda o trabalho real do maqueiro, que se formule um diagnóstico da sua atividade e se estabeleça indicações de melhoria da sua atividade e das unidades de saúde que cuidam de pacientes, visando à segurança desses durante a atividade de transporte e transferência. Assim, o presente trabalho tem como objetivo central analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se, com isso, indicar medidas de melhoria da atividade dos maqueiros, que minimizem as possibilidades de ocorrência dos eventos adversos e aumentem a segurança do paciente. Para tanto, foi adotado o método situado da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que se caracteriza por aplicar técnicas observacionais e interacionais e por adotar uma abordagem participativa e negocial com os sujeitos interessados na solução dos problemas em foco. Os resultados da pesquisa demonstraram que os maqueiros, ao realizarem suas atividades, defrontam-se com contrantes físicos, devido às características das instalações físicas (degradação de equipamentos, ao layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade B2, entre outros) da MEJC e dos equipamentos utilizados (cadeiras de rodas sem suportes, macas de diferentes modelos, entre outros). Defrontam-se, também, com contrantes temporais (urgência do transporte, alta demanda x baixo número de efetivos, alta demanda x equipamentos indisponíveis etc.). Para garantir a eficiência do serviço prestado, os maqueiros realizam regulações frequentemente, que consistem no desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de terceiros para realizar certas transferências e transportes de pacientes, e fazer antecipações com previsões de demanda de chamados, ao depararem-se com fluxos intensos em determinados períodos e dias da semana, retirar todas camas de leitos, cadeiras de acompanhantes e berços de dentro do leito, ao realizarem uma transferência da maca para cama do leito, além de fazê-la no corredor, suspender cadeiras de rodas e macas, ao entrarem e saírem dos elevadores, correr com cadeiras de rodas, ao subirem rampas muito íngremes etc., sendo que parte dessas estratégias constatadas podem aumentar o risco de ocorrência de uma EA. Essas regulações têm como objetivo atenuar ou eliminar os contrantes e as variabilidades incidentais, facilitando a execução das ações (transporte e transferência do paciente). Diante dos achados, sugeriu-se, uma série de medidas para melhoria da segurança do paciente, como, por exemplo, a aquisição de suportes para as cadeiras de rodas, a realização de um estudo aprofundado de análise e previsão de demanda do setor, a realização de um treinamento conjunto do setor de enfermagem e o setor dos maqueiros, quanto à instrução para o seguimento do protocolo de chamados, além disso, incluir nesse protocolo níveis que digam o grau de enfermidade do paciente, pois, assim, facilitaria para os maqueiros, em momentos de alta demanda, a escolha da estratégia utilizada, além de dar um maior noção do estado de saúde do paciente, o que ajudaria na prevenção de eventos adversos. Sugeriu-se, ainda, a inclusão dos maqueiros nos treinamentos, palestras, cursos etc. sobre a segurança do paciente, que incluam a importância da sua atividade e como fazê-la de forma segura para os pacientes e profissionais, evitando que os maqueiros utilizem manobras arriscadas no transporte de pacientes. Além disso, recomendou-se, também, que esses profissionais sejam alertados sobre a importância da lavagem das mãos pré e pósatendimento, principalmente, diante do momento atual de pandemia de COVID-19.