Resumo: |
Essa tese se desenvolveu a partir do processo de criação de um filme intitulado Guadalupe e pela proposta de recuperação da experiência narrativa e da dimensão estética do fazer acadêmico, na contramão do empobrecimento da experiência e do desaparecimento da capacidade essencialmente humana de narrar, apontados por Walter Benjamin como característicos da modernidade. Pelo movimento da concepção do filme, busquei a condição da escrita do cinema, seu lugar e tempo próprios de criação, apoiada no pensamento de filósofos e historiadores da imagem como Walter Benjamin e Georges Didi-Huberman. A expressão nican mopohua, que na língua nahuatl significa “aqui se conta” ou “aqui se narra”, nomeia também o famoso relato da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, divindade cristã que representa uma intersecção com outra divindade adorada pelos povos indígenas do México pré-hispânico: Tonantzin. Guadalupe-Tonantzin é uma imagem síntese através da qual defendo a tese de que a escrita do cinema acontece no espaço-tempo-devaneio aberto entre a experiência do olhar, do gesto e do despertar. O que essa tese busca é a escrita das imagens através das aberturas, pelos desvios, vazios e extravios e que, pela via da poética, possibilita o escrever do cinema e o pesquisar em Educação como formas de contar histórias e, assim, superar o vazio de experiência. Este é um desafio que se estabelece no campo ético e estético em que a escrita não se constitui apenas como sobrevivência, mas também e principalmente como uma necessidade de reencantamento do mundo. A escrita de pesquisa transitou pelos espaços de reflexibilidade proporcionados pela prática da etnografia surrealista como metodologia de pesquisa e pelo exercício de surrealização da escrita de pesquisa como proposta por Denise Bussoletti na qual a montagem de inspiração surrealista em associação com a perspectiva benjaminiana de escrita da história surge como princípio organizador da escrita e como fundamento epistêmico. |
---|