Previsões do tempo em folhas soltas: práticas de cultura escrita de um agricultor gaúcho (1976 a 2022)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Capra, Leonardo
Orientador(a): Thies, Vania Grim
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/14519
Resumo: Este trabalho tem por objetivo verificar quais são os usos e as funções da escrita das previsões do tempo produzidas por um sujeito com pouca escolaridade, analisando os sentidos atribuídos a essa prática em seu percurso individual. A pesquisa consiste em compreender o processo de escrita longevo e incomum de “previsões meteorológicas” de autoria de David Vinoski, atualmente com 72 anos. Para isso, as “folhas soltas” manuscritas oportunizaram uma investigação com o intuito de entender os modos de envolvimento de David com a produção e a circulação da cultura escrita na comunidade de Vista Alegre do Prata/RS e em seu entorno, local onde reside. O campo teórico utilizado na análise e na discussão dos materiais consiste em autores como: Castillo Gómez (2003a, 2003b, 2020), Chartier (1998, 1999, 2003, 2004, 2010), Hébrard (2001), Viñao Frago (1999) e, principalmente, Galvão (2002, 2010), com o conceito de cultura escrita, bem como Thies (2008, 2013). A metodologia utilizada nesta pesquisa é a análise documental, considerando a legitimidade das “folhas soltas”, as materialidades e os sentidos contidos nelas, aliada à realização de uma entrevista semiestruturada para melhor compreender o processo dos registros nos suportes de papel. Distante da hegemonia do poder cultural centrado em escritas judiciais, legislativas e literárias, e ciente de que outras escritas ainda são escassas nas análises acadêmicas, a investigação analisou a existência de 23 previsões do tempo escritas de maneira manuscrita e de outras 42 divididas em 13 datilografadas e 29 digitadas. As previsões foram elaboradas por David e revisadas por uma pessoa na Prefeitura de Vista Alegre do Prata (Rio Grande do Sul/BR). A pesquisa demonstra mudanças significativas entre os dois processos de produção quanto aos suportes, aos instrumentos de escrita e às materialidades. Como conclusão, é possível verificar os impactos culturais que as “folhas soltas” produziram no processo de escrita do agricultor, como uma das maneiras de preservação da memória familiar e do saber comum, além da manutenção e do registro de uma das maneiras de se viver no mundo rural. Ao circular socialmente, o suporte digitado (anteriormente datilografado) e fotocopiado é o que confere a legitimidade aos registros por onde circula, bem como o reconhecimento simbólico ao produtor das escritas. O trabalho procura trazer contribuições à História da Educação, especialmente à História da Cultura Escrita, trabalhando com as escritas de um “sujeito comum” que sustenta uma produção escrita há mais de 50 anos.