Negra, louca... Assim me (nos) chamaram! Costuralidade, arte/educação e saúde mental de mulheres negras.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Rodrigues, Viviane Costa
Orientador(a): Lima, Georgina Helena Xavier
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/14492
Resumo: Esta tese tem como objetivo analisar o tratamento do adoecimento mental de mulheres negras no âmbito das práticas arte/educativas desenvolvidas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em Pelotas/RS. Neste contexto, as práticas arte/educativas propõem um trabalho terapêutico a partir da recuperação psicossocial de usuárias/os com transtornos mentais graves, mas que, ao ser essencialmente forjada no campo da educação torna-se imprescindível atentar-se a outras dimensões, tais como raça-gênero. Sabe-se que o racismo produziu uma estrutura de desigualdades sociais colocando grupos raciais ou étnicos em situação de desvantagem no acesso aos benefícios gerados por diversas instituições e, assim, permitindo que as iniquidades históricas em saúde sejam asseveradas. Desse modo, o debate sobre a saúde mental é fundamental para problematizar as desigualdades que impactam diretamente a população negra, em especial, de mulheres negras que formam o grupo mais aviltado pelo entrecruzamento das múltiplas opressões sociais e raciais. Neste enfoque, o debate sobre o racismo em suas permanências, mas também em contradições e ambiguidades é imprescindível para pensar a atualidade dessas relações e, como hipótese, tem-se o Racismo Institucional, por meio de atitudes preconceituosas e discriminatórias nas rotinas de atendimento dos serviços de saúde pública como uma prática que contribui efetivamente para manter esse cenário inalterado. Para tanto, confluímos as questões étnico-raciais na educação e na saúde buscando introdutório debate entre o racismo institucional e a saúde mental, através do escopo teórico onde autores/as discutem o tema em diferentes perspectivas culturais e histórias, especialmente no Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de observação participante que se utilizou de ferramentas metodológicas como entrevistas semiestruturadas, análise documental e levantamento bibliográfico na interlocução com diferentes sujeitos e referenciais. Buscou-se revitalizar o fazer metodológico pela possibilidade de uma Costuralidade arte/educativa na qual a formação docente e as questões étnico-raciais são problematizadas e se alinham a uma memória afetiva que “costura” a existência de outras mulheres negras através de suas subjetividades e experiências múltiplas. A análise dos dados aponta que as práticas arte/educativas nos CAPS frequentemente negligenciam no tratamento do adoecimento mental as dimensões raciais e colaboram, portanto, para a manutenção das nuances institucionais do racismo em seus processos de trabalho. Em contrapartida, as mulheres negras interlocutoras da pesquisa elaboram condições de sobrevivência e de cuidado tanto pelo viés terapêutico quanto pelo “estar junto” aos seus pares, performando uma resistência política e social que é histórica. Como resultado, encontramos uma Responsividade individual/coletiva de todos os sujeitos envolvidos em diferentes níveis de consciência e pela qual as mulheres negras, principalmente, insurgem desde uma estética de existência utilizando-se de astúcias e maneiras próprias de enfrentamento ao racismo.