Um governo dentro do governo: a articulação político-empresarial da organização da sociedade civil Comunitas e o caso da parceria com o município de Pelotas (RS).

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Coll, Liana de Vargas Nunes
Orientador(a): Schulz, Rosângela Marione
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciência Política
Departamento: Instituto de Filosofia, Sociologia e Politica
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/6899
Resumo: O objetivo da dissertação consiste em analisar a articulação do alto empresariado brasileiro em uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a Comunitas, buscando compreender qual o seu papel dentro de um governo. A hipótese que norteia a pesquisa é que a entidade atua enquanto uma instituição política. A Comunitas nasce de um programa de governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), ex-presidente do Brasil (1995-2003), o Comunidade Solidária. Após a gestão FHC, o programa é transformado em uma associação privada cujo objetivo é o aprimoramento do investimento social corporativo (ISC), prática que é entendida como sinônimo de filantropia estratégica no trabalho. Financiada por nomes da elite econômica brasileira, a entidade celebra parcerias com municípios e estados, sendo a cidade de Pelotas (RS) um dos locus de atuação desde 2013. A dissertação verificou que as práticas da Comunitas decorrem de uma reconfiguração das relações socioestatais, cujos fundamentos encontram-se especialmente na gestão FHC, sob os marcos da Reforma de Estado gerencialista. A atuação da entidade pode ser observada como a materialização de um modelo de gestão pública no qual as organizações ligadas ao mercado são convidadas a ter maior peso na administração pública. As ações da Comunitas são exemplificadas, na dissertação, através da parceria com a cidade de Pelotas. Evidenciando esse caso, verifica-se que a entidade possui um largo domínio de agência sobre o Poder Executivo, sendo responsável pela formulação de políticas públicas e constituindo-se como agente de peso na agenda política do governo. Por isso, a ideia de “governo dentro de governo” é formulada, na tentativa de sinalizar que as elites econômicas, sem serem eleitas e através da Comunitas, compartilham o governo junto ao Poder Executivo, onde inserem suas próprias definições de interesse público. A dissertação também indica que o fenômeno de filantropia empresarial consolida-se através de uma rede de articulação mundial, cujo fortalecimento relaciona-se com a diminuição da soberania popular sobre as decisões públicas. Constitui, assim, uma forma de conversão de poder econômico em poder político característica das sociedades neoliberais. Concluímos, ainda, que a relação entre filantropia empresarial e política precisa ser mais regulada e merece ganhar uma agenda de pesquisa mais ampla no campo da ciência política no Brasil.