Chefia, parentesco e alteridade: Um estudo etnológico do sistema dualista e do poder político Kanhgág.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Severo, Diego Fernandes Dias
Orientador(a): Rosa, Rogério Reus Gonçalves da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Departamento: Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/6908
Resumo: Esta Tese de Doutorado tem como objetivo analisar a lógica do poder político Kanhgág – uma Sociedade Jê Meridional. Para isso, foi realizada uma pesquisa etnográfica na ẽmã mág (aldeia grande) Nonohay e em duas ẽmã sĩ (aldeias pequenas), Por Fi Ga e Fosá. A escolha da ẽmã mág Nonohay se realizou por esta possuir um pã’i mág (chefe político) com 32 anos no cargo, ter um histórico de luta pela terra, ser uma das maiores terras indígenas Kanhgág no Rio Grande do Sul e por ser palco de conflitos políticos Kanhgág, que envolvem expulsões e transferências de oponentes por parte do pã’i mág, além do plantio de lavouras de soja na terra indígena. As ẽmã sĩ são formadas por grupos domésticos expulsos da ẽmã mág Nonohay, que buscam acionar signos diacríticos em relação ao pã’i mág dessa ẽmã mág. Desse modo, este trabalho analisou as categorias Kanhgág que orientam a política e a distribuição de recursos econômicos e constatou que os conceitos se originam a partir do sistema dualista kanhgág marcado pela relação de metades e seções – respectivamente, Kamé, Kanhru, Wonhetky e Votor – que se desdobram, por exemplo, nos quatro termos que denominam as espacialidades – Ĩn (Casa), ẽmã mág (aldeia grande), vãre (acampamento) e ẽmã sĩ (aldeia pequena) –, as classificações sociais – Kanhgág pé (Índio puro), Misturado, Fóg sĩ (pequeno branco) e Fóg (branco) – e as chefias políticas – pã’i (chefe de grupo doméstico), pã’i mág (chefe político maior), cabeça e pã’i sĩ (chefe político menor). O conjunto dessas séries dualistas é o motor das alianças e das rupturas políticas, que por sua vez movimentam a lógica do poder e do prestígio político Kanhgág. Com isso, elencou-se em um primeiro momento o modelo político presente na ẽmã mág Nonohay para estabelecer um comparativo com a realidade observada nas ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá. Na ẽmã mág Nonohay foi delineado o contexto de seu surgimento, a trajetória dos pã’i mág, a centralidade e a longevidade do atual pã’i mág Pénry. Também foram analisados os ciclos econômicos – do tempo do “matão”; das práticas das agências indigenistas; e das relações com o agronegócio – o sistema de trocas e a rede de solidariedade e reciprocidade pautada na hierarquia dos pã’i na Ĩn. Em relação as ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá analisou-se a lógica de funcionamento político, a distribuição das benesses do poder e o processo sucessório dos pã’i mág, com o intuito de identificar suas semelhanças e diferenças, assim como verificar as aproximações e os afastamentos da prática política da ẽmã mág Nonohay. Acompanhando a permanência e o declínio dos pã’i mág e a distribuição de bens econômicos nos diferentes cenários etnográficos se conclui que a formação de grupos e a constante oposição é um princípio fundado na lógica dualista Jê que organiza a coesão e a dispersão Kanhgág. No mesmo sentido, o pã’i mág se mantém no cargo a partir da aliança com os demais pã’i, fundado no prestígio de sua Ĩn e na força de seus kanhkó, que o protegem dos oponentes.