Aspectos etnoecológicos da carcinicultura no Parque dos Manguezais e Ilha de Deus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: BENTO, Eloiza da Silva
Orientador(a): RODRIGUES, Gilberto Gonçalves
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10565
Resumo: A etnoecologia emerge em um contexto de discussões e debates sobre a conservação da diversidade biológica e cultural, manejo dos recursos naturais e políticas públicas, equidade e partição de benefícios, desenvolvimento e planejamento urbano e rural. A abordagem etnoecológica de pesquisa se mostra como um caminho metodológico viável que possibilita a interconexão entre saberes científicos e os “não formais”, como forma de conhecimento das práticas de manejo de atividades produtivas quando são realizadas por populações consideradas tradicionais. A Cidade do Recife teve sua urbe erguida sobre uma planície flúvio-marinha estuarina composta por extensos manguezais e ocupada por populações tradicionais de pescadores que desenvolviam a pesca artesanal e aquicultura. O Parque dos Manguezais e Ilha de Deus (PMID) estão localizados em área estuarina da zona sul do Recife, onde há registros do cultivo de peixe desde o século XIX. O cultivo de camarão no PMID iniciou-se em meados dos anos 80, apresentando aumento substancial de área cultivável e de pescadores inseridos na atividade, na primeira década do século XXI, em razão da “desagregação” da pesca artesanal local e da mudança do perfil do consumo de camarão em nível nacional. A carcinicultura no PMID tem gerado uma série de conflitos potenciais entre pescadores, Poder público nas suas diversas esferas e ambientalistas que são contrários à permanência da carcinicultura no PMID, o que implicou na criação/regulamentação do Parque Natural Municipal dos Manguezais Josué de Castro (PNMMJC), já prevendo em seu projeto a eliminação de suas áreas de carcinicultura. Com esta pesquisa objetivou-se identificar aspectos etnoecológicos da carcinicultura no PMID, compreendendo o seu contexto histórico, suas condições de manejo e produção, a relação que os pescadores mantêm com o ambiente local e suas condições socioeconômicas, assim como identificar conflitos socioambientais derivados da carcinicultura. Dentro do enfoque etnoecológico, mesclou-se as abordagens quantitativa, qualitativa e participativa de pesquisa, com diversos procedimentos metodológicos que envolveram reuniões, entrevistas semiestruturadas, oficina, aplicação de formulários, construção de mapas comunitários, entre outros. Esta pesquisa, de um modo geral, evidenciou que a carcinicultura no PMID parte de um contexto histórico que precede a piscicultura tradicional na cidade, sendo pescadores os sujeitos que a animam e que albergam um vasto corpo cognitivo e uma práxis típica de comunidades tradicionais. A carcinicultura no PMID movimenta considerável cadeia produtiva, apresentando forte impacto na economia local e na absorção de mão de obra. A substituição ou eliminação da carcinicultura e demais atividades pesqueiras no PMID implicará no aumento da pauperização de comunidades do entorno e perda de suas tecnologias patrimoniais adquiridas por meio do metabolismo orgânico ao longo de suas vivências nesse manguezal. Essas questões somente reforçam a necessidade de uma gestão democrática do ambiente, que combine autogestão e gestão estatal dos recursos, visando à aplicação de preceitos do desenvolvimento sustentável (endógeno) às estratégias políticas, considerando o potencial ecológico local do PMID, integração do conhecimento formal e o etnoconhecimento, conjugando inovações tecnológicas mais eficientes e menos poluentes. Por outro lado, a imposição do PNMMJC se mostrou incoerente com a realidade socioambiental local.