"— A senhora disse-me que não ia mais comer as coisas do lixo" : o peso da maternidade periférica de Carolina Maria de Jesus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: ARAUJO, Daniela Forcioni Turba dos Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
UFPE
Brasil
Programa de Pos Graduacao em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/53806
Resumo: A presente pesquisa aborda os temas da maternidade e da maternagem, intrinsecamente ligadas às questões de gênero, raça e classe na obra Quarto de despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (2014). Adotamos uma postura de metodologia feminista descolonial, por entender que esse estudo vai além de determinar que Carolina Maria de Jesus é negra e pobre, ou seja, de que tudo que ela vive no seu Quarto de Despejo é por conta da sua raça; intentamos compreender como seu corpo materno preto é consequência da colonialidade, em que a colonialidade do saber, do ser e do poder são mantidas de forma insistente. Para além disso, a colonialidade de gênero se faz presente, na qual o sexo sustenta a colonialidade do poder, a dominação racial e de gênero. Isto posto, podemos ter alguma medida da mais profunda destruição histórica dessa imposição colonial a qual Carolina nos apresenta em sua obra. Em nossas observações, focamos nas estruturas patriarcais e de controle do corpo materno preto, posto que a maternidade vem acompanhada por questões sociais e está bem nítida na obra caroliniana. Dessarte, compreendemos a necessidade de estudar obras escritas por mulheres negras pela relevância em ouvir a sua voz e vermos como o cânone literário pode ser comandando pelo patriarcado branco heteronormativo, de modo que, nesse contexto, a escrita das mulheres negras têm sido apagada durante a história. Acreditamos que discutir como a maternidade de Carolina é vivida e como se transforma em sua maternagem merece reflexão teórica inicial, inclusive sobre os arquétipos e suas projeções no cotidiano das comunidades brasileiras. Desse modo investigamos as particularidades do corpo negro materno excluído e invisibilizado pela perpetuação do discurso patriarcal como reivindicação dentro da escrita literária e demonstramos ser a obra Quarto de Despejo uma atitude feminista com escopo no exercício da maternagem de Carolina Maria de Jesus, incluindo, dessa forma, os estudos de Vânia Vasconcelos, Badinter, Lélia Gonzalez, Patrícia Hill Collins, Sueli Carneiro, Grada Kilomba, Cristina Stevens, Constância Duarte, entre outras que reiteram as dificuldades do exercício pleno da maternidade negra frente às fortes barreiras sociais.