Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
SANTOS, Laerte de Paula Borges |
Orientador(a): |
NASCIMENTO, Luis Felipe Rios do |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Pernambuco
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pos Graduacao em Psicologia
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/55770
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Resumo: |
Esta tese se constitui enquanto uma etnografia prisional, que se edifica a partir do seguinte questionamento: Como as experiências de mulheres sobreviventes do cárcere podem friccionar os circuitos violentos e desumanizantes de tais instituições? Para tanto, o principal terreno aqui investigado foi uma Cadeia Pública Feminina, localizada no sertão pernambucano. A instituição, mesmo depois de ter passado por uma recente reforma, ainda se configura enquanto uma estrutura punitiva improvisada, que longe de se assemelhar às grandes fortalezas prisionais de segurança máxima, traz consigo as marcas da precariedade de um espaço que parece mais uma prisão em forma de cortiço, um cortiço-prisão, como nomeia Santos (2018). Apesar deste ser o principal sítio para a colheita dos dados aqui salientados, essa pesquisa também aposta no entendimento de que o cárcere é um espaço produzido a partir de uma relação porosa, que descortina a ideia de um total isolamento entre o mundo de dentro com o mundo de fora, pois a prisão também está nas comunidades empobrecidas, nos procedimentos de controle sobre territórios de circulação e recreação negra, no estabelecimento de metas de aprisionamentos da polícia a partir da constituição de indivíduos puníveis. Ela está na cooptação daquela infância que desde cedo tem de aprender certas regras do jogo, no ventre de um bebê prestes a nascer do outro lado da grade e também na constituição das histórias dessas tantas mulheres que cruzei em momentos distintos das minhas incursões nesse campo. Na confluência entre duas importantes técnicas de pesquisa (história de vida e observação-participante), pude durante os anos de 2015, 2017 e 2021, acompanhar mais de perto os roteiros que organizaram a vida de quatro mulheres: Socorro, Fátima, Maria e Carolina. Nem todas estavam ali posicionadas desde o lugar de “presas”, mas todas tiveram o encarceramento como um circuito de amplificação das suas formas de sofrer. Pretas ou pardas, pobres, trabalhadoras, mães ou filhas, jovens e adultas, sonhadoras, mulheres que em sua grande maioria, mataram o tempo ocioso da tranca, para seguir vivendo depois dela. Nem todas escaparam. Nessa peça que articula o fim do mundo e o seu adiamento, a sobrevivência prisional se mostrou um importante mecanismo de preservação da vida durante a passagem pela reclusão, pois se intersecta a uma política de reconstrução de mundo que se ancora na constatação primeira de que para vencer a guerra é preciso antes de tudo estar vivo. Muitas são as táticas que se acoplam à produção de tal categoria, que a partir de uma teimosa ética da persistência e continuidade, faz com que indivíduos e comunidades resistam, mesmo quando todas as forças pedem o contrário, sendo a vida aquilo que possibilita uma vingança da morte através dela mesma. |