Estudo etnobotânico de famílias ciganas no Estado de Pernambuco

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: LOBO, Ricardo Alexandre de Araújo Monteiro
Orientador(a): ANDRADE, Laise de Holanda Cavalcanti
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Biologia Vegetal
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/32672
Resumo: Na literatura científica, a comunidade cigana não é estudada com a mesma extensão que outras minorias, como os povos indígenas e afrodescendentes. As migrações e discriminações que sofreram desde a provável origem, no Noroeste da Índia, moldaram a cultura cigana e influenciaram a formação das três etnias (Calon, Rom e Sinti). Presentes no Brasil desde sua colonização, os ciganos necessitaram, possivelmente, aliar suas tradições culturais à rica biodiversidade do país. O presente estudo caracteriza duas famílias ciganas da etnia Calon, que vivem em municípios do Agreste e da Mata Norte de Pernambuco, comparando o conhecimento etnobotânico entre si e com o de comunidades não ciganas da mesma região. Empregou-se a técnica bola de neve e formulários semiestruturados para entrevistar 23 membros (≥ 40 anos) das famílias Alves e Dantas (85,2% do público alvo). As espécies citadas foram coletadas em turnês guiadas, identificadas e depositadas nos herbários IPA e UFP. Utilizou-se os índices de fidedignidade (IFid), de importância relativa (IR) e de valor de uso (VU) para comparar a importância das espécies para as duas famílias e o índice de Sørensen (Is) para estabelecer suas semelhanças. Os ciganos das famílias Alves e Dantas estão assentados a cerca de 25 anos, deixando a vida nômade à procura de melhores condições de vida e educação para os filhos. Os Dantas moram no Distrito de Ibiranga, município de Itambé, e os Alves vivem nos municípios de Altinho, Caruaru e Feira Nova. A língua chib, que não é ensinada para os gadjés (não ciganos), é o modo que eles usam para reconhecer um outro cigano. Os entrevistados são em sua maioria (70%) analfabetos ou semianalfabetos, e têm como principais fontes de renda o comércio informal e programas de assistência governamental. As casas são de alvenaria e não apresentam fornecimento regular de água, nem esgotamento sanitário. A maioria das residências dos entrevistados apresentam alguma forma de jardim, onde são cultivadas plantas medicinais e/ou ritualísticas como Cymbopogon citratus (Poaceae), Jatropha gossypiifolia (Euphorbiaceae), Lippia alba (Verbenaceae) e Mentha sp. (Lamiaceae). Registrou-se 157 espécies de plantas nativas (54%) e exóticas (46%), classificadas como alimentícia (18%), condimentícia (5%), cosmética (7%), medicinal (52%), ritualística (7%), tecnológica (4%), veterinária (5%) e outras (2%). Destaca-se o uso de Apodanthera congestiflora (Cucurbitaceae) e Heliotropium indicum (Boraginaceae) para profilaxia e tratamento da doença de Newcastle (arbovirose) em aves domésticas. Apesar de não conviverem para intercambiar os usos das plantas, existe uma grande semelhança no conhecimento etnobotânico entre as famílias ciganas Alves e Dantas (Is = 0,68), destacando-se Punica granatum (Lythraceae), com o maior IFid (100%), C. citratus, com o maior VU (0,26) e L. alba, com a maior IR (2,00). Este conhecimento não difere significativamente de comunidades não ciganas residentes na mesma região.