Redes, solidariedade e cidadania democrática: a experiência inovadora da articulação do Semi-Árido

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2007
Autor(a) principal: BRITO, Paulo Afonso Barbosa de
Orientador(a): ALBUQUERQUE, Paulo Henrique Novaes Martins de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/9643
Resumo: A experiência de convivência com o semi-árido , no Nordeste brasileiro, articula um conjunto de iniciativas que buscam vida melhor para amplos agrupamentos humanos residentes em uma extensa região do país. Afirma-se, ao mesmo tempo, como paradigma profundamente inovador nos estudos sobre o semi-árido brasileiro, redefinindo as relações entre sociedade e Estado na promoção de alternativas de desenvolvimento regional. Essa experiência social, nascida nos chamados grotões do Nordeste, rompe com a dominação social, política, econômica, cultural e intelectual que, durante séculos, tem reproduzido uma situação de extrema pobreza e desigualdade, mas rompe também com todas as iniciativas anteriores de intervenção estatal para o enfretamento desta situação, presente na agenda social e política nacional desde o século XVIII. Essa inovação e esse rompimento foram possíveis devido a várias iniciativas associativas e solidárias de base, que construíram alianças, articulando-se em rede permanentemente organizada, com vontade e disposição para enfrentar coletivamente a problemática do semi-árido. Nascida no seio das lutas populares, essa experiência incorpora-se e relaciona-se com a complexa trama que envolve a chamada emergência da sociedade civil brasileira que, em nossa análise, não surge como um setor ou uma realidade à parte do Estado e do mercado, mas relaciona-se intimamente com eles, embora mantendo sua identidade, sua autonomia e enfrentando suas próprias contradições. Para a análise dessa experiência, articulamos coerentemente algumas abordagens presentes na atualidade das Ciências Sociais, reconhecendo que nenhuma abordagem, por si só, pode dar conta da complexidade, do significado e do conjunto de relações que esse processo envolve, mas também evitando o ecletismo teórico-metodológico. Partimos dos fundamentos das ações coletivas, de solidariedades e alianças em que os valores do vínculo social e do pertencimento fazem parte do movimento paradoxal entre o interesse e o desinteresse, entre a liberdade e a obrigação, no qual os primeiros têm primazia sobre os segundos, ou seja, a generosidade, a amizade, o companheirismo, têm primazia sobre o cálculo racional e utilitário. O conjunto dessas escolhas aparece articulado em torno do paradigma da dádiva, onde o circuito do dar, receber, retribuir, tal qual formulado por Marcel Mauss e atualizado pelo Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais (MAUSS), permanece como um movimento permanentemente recriado. Consideramos também as abordagens fenomenológica e hermenêutica de Boaventura Sousa Santos, na ênfase dada contra o desperdício da experiência , privilegiando-se a experiência e o dialógico para a organização da realidade social. Articulamos também estas abordagens com algumas das elaborações em torno dos novos movimentos sociais, considerando que o atual paradigma das redes sociais é um ancoradouro necessário para a análise das solidariedades e dos processos de mudança nas sociedades contemporâneas. Esta triangulação de abordagens nos permite articular o associacionismo, a solidariedade e a participação com os princípios da justiça social e da democracia