A criança desvendando a arte: um olhar antropológico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2000
Autor(a) principal: AMARAL, Maria das Vitórias Negreiros do
Orientador(a): PITTA, Danielle Perin Rocha
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/17013
Resumo: Esta pesquisa tem como fio condutor a Teoria do Imaginário, baseada em: Gilbert Durand, Edgar Morin, entre outros. Para compreender como os sujeitos sociais apreendem a arte, fui a quatro escolas que têm como proposta a inserção da arte em seus currículos. Com o objetivo de observar as crianças que estão iniciando o processo de ensino-aprendizagem escolar, foi feita pesquisa de campo em quatro turmas de Infantil 2, crianças com faixa etária entre 4 e 6 anos. Analisando o material recolhido no campo: etnografia, testes AT-10 (Teste Arquetipal de 10 elementos), entrevistas e os históricos escolares, constatei que essas escolas têm um discurso explícito de criar um "espaço feliz", que tem como base do aprendizado o lúdico e a arte. Pode-se ver esse discurso como sendo regido pelo mito de Orfeu, que doma as feras e diante de quem as árvores se dobram, ao som de sua lira. Entretanto, as crianças vivem no mundo de Dionísio, vivem num mundo de jogo e de brincadeira. Inserida nesse mesmo discurso há outra dimensão, a do tácito, o que está nas entrelinhas do explícito e é através dele que a escola (instituição escolar) passa as regras e normas sociais para a formação de um "futuro homem" ou um "homem de futuro" num mundo competitivo, onde o que tem "valor” é um produto a ser consumido. Essa dimensão do discurso é regida pelo mito de Prometeu, o mito do progresso. Para passar de Orfeu a Prometeu, a escola utiliza a figura mítica do sacipererê como um mediador, um mensageiro entre a escola e as crianças. Mensageiros também, Hermes e Exu, são identificados como Trikster, personagem que representa a primeira fase da infância, personagem travesso, alegre e brincalhão. Esses mitos foram tomando corpo no decorrer das análises das imagens e dos símbolos encontrados na pesquisa. A noção de arte é repassada para a criança, pela escola, através de três encaminhamentos: arte como prazer, transformada em arte como crescimento, que é um dos objetivos da escola; e o terceiro encaminhamento, o aprendizado da arte , aulas de arte propriamente dita, com o objetivo da prática e do conhecimento da arte. Quando a escola realmente acredita na relevância do ensino da arte e investe nesse terceiro encaminhamento, a criança continua com seu aprendizado após a educação infantil. Quando a arte é usada apenas como um aperfeiçoamento da coordenação motora, um "trampolim" para o ensino fundamental, a criança deixa de se interessar por" coisa de criança" (arte e o fazer artístico), deixa para trás o mundo dionisíaco em que vivia e passa para o prometéico, um mundo sério, de "coisas importantes", em que não há lugar para a arte.