A construção e a transmutação do olhar : uma leitura integrada dos personagens de Um copo de cólera e de Lavoura arcaica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: COSTA, Walter Cavalcanti
Orientador(a): VIEIRA, Anco Márcio Tenório
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/42232
Resumo: A partir dos personagens, este estudo tem o objetivo de realizar uma leitura integrada de como se constrói o olhar nos romances Lavoura arcaica (NASSAR, 1989) e Um copo de cólera (NASSAR, 1992), e de como esse olhar se transmuta para o cinema, através das adaptações homônimas realizadas, respectivamente, por Carvalho (2001) e por Abranches (1999). Para tanto, inicialmente desenvolve-se uma base teórica, na qual são evidenciados os cinco eixos teóricos que sustentam todo o percurso. Estes são: a estrutura textual; a transtextualidade; a semiótica peirceana; a fenomenologia da memória e a adaptação fílmica. Partindo-se dos próprios textos das obras nassarianas – sabendo-se que os personagens das obras acumulam a dupla função de atuação (dentro e fora dos textos) e de narração do discurso narrativo – constata-se a presença recorrente do verbo “olhar”, do substantivo “olho”, bem como das suas flexões, sinônimos e afins. Esses signos compõem o tipo de frequência narrativa chamada por Genette (2017, p. 183) de “singulativa”, devido à igualdade entre o número de ocorrências e o de citações no tecido textual. Com o intuito de mensurar essa recorrência, assim como para fins de material de apoio, realiza-se uma catalogação desses ícones verbais para cada obra, dispostas nos anexos 1 e 2. Do texto para os sentidos, o olhar é compreendido como um “movimento interno do ser que se põe em busca de informações e de significações” (BOSI, 1988, p. 66). Esse movimento é articulado a partir da tríade percepção (o sujeito que vê e é visto), expressão (a linguagem proporcionada pelos olhos) e memória (as imagens impregnadas na mente), sustentada, principalmente, a partir da fenomenologia da percepção dos trabalhos de Bergson (1999), Merleau-Ponty (1999; 2003; 2004) e Ricouer (2007). De efeitos práticos, articulam-se quatro aspectos da chamada rede icônica e simbólica (pela perspectiva peirceana, o percurso que os ícones fazem até os símbolos), para a investigação de como esse olhar funciona nos dois romances. Estes são: a função dos olhos; a associação com animais; as relações interpessoais e a ambígua abstração temporal. Na sequência, esses aspectos são retomados a partir da integração das imagens das lembranças, articuladas entre os sentimentos de desejo e de perdão. Na análise fílmica, realizam-se redimensionamentos no caminho percorrido acerca dos livros a fim de se investigar como ocorre a transmutação do olhar. Dessa forma, constata-se que, com base em Hutcheon (2013, p. 48), no processo de tradução fílmica, partem-se de signos verbais literários, governados pelo “contar”, para os signos imagéticos fílmicos, alicerçados pelo “mostrar”. Destaca-se também que, mesmo com as aproximações com a literatura, os filmes são também lidos como obras autônomas, donas de uma linguagem própria, tal como Johnson (1982) defende. Sobre a análise das películas, podem ser constatadas algumas peculiaridades na transmutação da frequência singulativa. Em Lavoura arcaica (CARVALHO, 2001), percebe-se a utilização de quatro grandes efeitos na linguagem expressa na tela: o uso da distorção das imagens em momentos específicos; a presença de cenas incidentais simbólicas, a especulação ficcional e a recriação/sobreposição de tempos. Por sua vez, os narradores de Um copo de cólera (ABRANCHES, 1999) lançam mão de quebras da quarta parede, chamadas por Souza (2018, p. 152) de “planos metanarrativos”.