Fibrose e outras lesões hepáticas em camundongos isogênicos ("inbred") desnutridos e eutróficos, infectados com Schistosoma mansoni

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Lucia Carvalho, Sandra
Orientador(a): de Medeiros Coutinho, Eridan
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/9025
Resumo: Na esquistossomose mansônica crônica, os granulomas periovulares e a fibrose periportal são as lesões hepáticas mais importantes, além das alterações vasculares, que provocam a hipertensão dentro do sistema venoso portal. Camundongos eutróficos Swiss, outbred , infectados com Schistosoma mansoni, desenvolvem lesões que se assemelham às encontradas nas formas graves da esquistossomose intestinal do homem e por isso são usados como modelo experimental, em função, também, da facilidade de seu manuseio e do baixo custo. A desnutrição representa, em extensas regiões do mundo onde ocorre a esquistossomose, uma patologia frequentemente associada a essa parasitose, como acontece no nordeste brasileiro, sendo, pois, de interesse o estudo da patobiologia do hospedeiro vertebrado do S. mansoni , em relação ao seu estado nutricional. No que diz respeito à chamada fibrose de Symmers (clay pipestem fibrosis) encontrada no fígado de pacientes com esquistossomose mansônica avançada, a lesão foi reproduzida sobretudo em macacos e em camundongos Swiss eutróficos, mas não se desenvolve em camundongos desnutridos. Com o objetivo de verificar a importância do padrão genético do hospedeiro na patogênese dessa e de outras lesões hepáticas observadas em camundongos outbred , a presente investigação destinouse a estudar em camundongos isogênicos desnutridos, as alterações hepáticas encontradas, comparando-as com as de camundongos eutróficos, isogênicos e outbred . Os animais foram infectados com 30 cercárias de Schistosoma mansoni, por via transcutânea, tendo sido sacrificados por deslocamento cervical, após 16 semanas. A desnutrição foi induzida pelo consumo da dieta básica regional (DBR), dieta hipoprotéica (7,87%) consumida por populações humanas residentes em áreas endêmicas de esquistossomose de Pernambuco e de outros Estados do nordeste brasileiro. A dieta comercial NUVILAB foi administrada aos animais controles e é considerada como dieta padrão (22% de proteína) para camundongos. O estado nutricional foi avaliado através da pesagem semanal e construção das curvas de peso dos diversos grupos sob experimentação. Os camundongos isogênicos pertenciam às cepas BALB/c e C57BL/10 e os animais outbred eram albinos Swiss. No momento da necropsia, após estudo macroscópico dos órgãos, amostras de fígado foram retiradas para estudo histológico, morfométrico e bioquímico (quantificação do colágeno através da dosagem de hidroxiprolina). Os animais também foram, após sacrifício, submetidos a perfusão para coleta de parasitos. Quanto à organomegalia, verificou-se que, em todos os grupos, as maiores médias de peso do fígado e do baço foram encontradas nos camundongos eutróficos, em comparação com animais desnutridos da mesma linhagem. Camundongos desnutridos em geral desenvolveram cargas parasitárias menores do que camundongos eutróficos. Em todas as linhagens, camundongos desnutridos produziram menor quantidade de ovos do que camundongos eutróficos, em relação ao fígado total. Os animais dos grupos eutróficos mostraram curvas ponderais com valores sempre significativamente mais elevados do que os animais desnutridos, tendo sido observada a melhor evolução ponderal no grupo dos oubred eutróficos e a pior no grupo dos isogênicos BALB/c desnutridos. A mortalidade espontânea foi sempre muito elevada nos grupos desnutridos particularmente da linhagem BALB/c, embora também tenha ocorrido nos grupos eutróficos (dos 285 camundongos utilizados, apenas 106 concluíram a fase experimental), provavelmente por motivos ligados a mudanças na estrutura física de nosso Biotério de Experimentação, ocorridas durante a realização do experimento. Camundongos isogênicos da linhagem C57BL/10, segundo avaliação morfométrica, considerada mais sensível, desenvolveram maior quantidade de colágeno hepático (tanto desnutridos como eutróficos), em relação às outras linhagens. Pela avaliação bioquímica (espectrofotometria), as diferenças ocorreram, mas não foram estatisticamente significativas. Ao exame histológico, camundongos isogênicos desnutridos apresentaram granulomas menores. Pela morfometria, revelaram menor densidade volumétrica e maior densidade numérica, em relação aos animais eutróficos. Camundongos isogênicos BALB/c, desnutridos e/ou eutróficos, não desenvolveram a fibrose periportal do tipo murino. Todavia, camundongos isogênicos desnutridos, da linhagem C57BL/10, desenvolveram a fibrose pipestem-like em 4 dos 21 animais do grupo. Este achado talvez esteja relacionado com o tipo da cepa parasitária utilizada (cepa SLM), diferente da que foi empregada em investigações anteriores (BH), o que ocorreu devido a problemas técnicos no laboratório, à época da montagem do experimento. A hepatomegalia guardou relação com a presença de infiltrados celulares, aumento de teor de colágeno e teor protéico da dieta controle (22%). A esplenomegalia pode ser relacionada à hiperplasia do sistema fagocítico-mononuclear e à congestão decorrente de alterações hemodinâmicas no sistema venoso portal. Outras lesões hepáticas observadas, tais como metamorfose gordurosa periportal e eventuais focos de necrose coagulativa aguda por isquemia, tiveram importância secundária no quadro histopatológico da esquistossomose crônica, no modelo experimental estudado. Os resultados obtidos apontam para a necessidade de aprofundar os estudos sobre o papel de diferentes tipos de cepa parasitária no desenvolvimento da lesão pipestem-like , no modelo murino desnutrido