Duelo de MCs : Avaliatividade e construção de sentido

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: SILVA JUNIOR, Valmir Joaquim da
Orientador(a): SOUZA, Maria Medianeira de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/50077
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar como e quais recursos léxico-gramaticais e semântico-discursivos são usados para expressar atitude durante duelos de MCs, buscando entender como avaliações constroem sentido no gênero em questão à luz do Sistema de Avaliatividade (Martin, 2000; Martin e Rose, 2003 [2007]; Martin e White, 2005). Tal abordagem teórica insere-se no escopo da Linguística Sistêmico- Funcional (Halliday e Matthiessen, 1999; Halliday e Matthiessen, 2014). Nesse sentido, o Sistema de Transitividade, categoria da LSF, mostra-se relevante, uma vez que os significados ideacionais também podem imprimir uma carga avaliativa. Em relação aos duelos de MCs, também chamados de batalhas de MCs e batalhas de rima, nossas principais fontes teóricas são: Pimentel (1997), Rose (1994), Shusterman (1998), Marques (2013) e Teperman (2013). A batalha de rima é um gênero da esfera oral ligado ao universo do hip-hop e do rap, cuja origem remonta aos jogos verbais de origem africana, tais como the dozens e signifying. Geralmente, os participantes que se engajam nessas disputas são jovens, em sua maioria de periferia, que postulam, além de ter suas vozes ouvidas, exibir suas habilidades com as palavras. Para visualizar esse movimento avaliativo dentro dessa prática, selecionamos seis duelos da “Batalha da Escadaria”, competição que acontece desde 2008 no centro de Recife, sendo uma das mais tradicionais do Brasil. Dezesseis MCs são sorteados para participar da competição e vão se enfrentando até que se chegue a um vencedor. Após a escolha das batalhas, disponibilizadas no Youtube e ocorridas em 2018, 2019 e 2020, começou o processo de transcrição. Em seguida, houve a marcação de todos os itens avaliativos e, por fim, sua classificação de acordo com as categorias do subsistema de atitude, a saber, afeto, julgamento e apreciação. A análise mostra um alto grau de avaliações de julgamento, nos fazendo perceber que o MC tende a construir uma imagem positiva de si mesmo, utilizando recursos que focalizem sua capacidade e competência; alguns processos materiais adquirem, nesses momentos, uma semântica agentiva. Referindo-se ao seu adversário, os MCs costumam associá-los à falta de habilidade com as rimas e à falta de conteúdo, por isso é comum o uso de processos mentais, a fim de questionar a capacidade cognitiva de seu oponente. Uma outra questão revelada diz respeito ao uso de comparações com personalidades, personagens e instituições para realizar avaliações. Os MCs focalizam determinada característica do objeto referenciado para atribuí-la a si ou a seu adversário, tentando, dessa forma, direcionar o olhar do público que acompanha o evento. Vimos que a categoria afeto funcionou como auxiliar na construção dessas personas. Em relação à apreciação, os itens rima e rap são avaliados como texto e discurso, o que remeteu tanto a aspectos ligados à forma quanto relacionados ao conteúdo. A atividade de avaliar, tomada por Martin e White (2005) como intrínseca à realidade humana, ganha relevância nas batalhas na medida em que se configura como ferramenta fundamental para que os MCs se mostrem superiores uns aos outros. É por meio de avaliações que diversas estratégias são mobilizadas para marcar as diferenças entre os oponentes.