Parir é libertário : etnografia em um grupo de apoio ao parto humanizado de Recife/PE
Ano de defesa: | 2015 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Pernambuco
UFPE Brasil Programa de Pos Graduacao em Antropologia |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/18596 |
Resumo: | Este trabalho versa sobre as experiências de parto de mulheres que participaram de um grupo de discussão pela humanização do parto e do nascimento em Recife/PE, tendo como objetivo compreender como o parto é vivenciado e significado por estas mulheres para que seja classificado como evento transformador. Nele argumento que as mulheres que escolhem um parto humanizado experienciam-no como estratégia de poder e alternativa para subverter as hierarquias presentes nas relações de gênero e outras, de modo a reafirmar suas autonomias, buscar o autoconhecimento e exercitar o cuidado de si. O parto seria vivido como possibilidade de subjetivação e prática de liberdade. Como estratégias de investigação, utilizei o método etnográfico, com ênfase para as técnicas de observação participante em um grupo presencial e na sua versão virtual e a realização de entrevistas com algumas mulheres que frequentaram o grupo durante o período da minha inserção no campo. Privilegiei a análise do discurso como forma de leitura das informações construídas. Minhas interlocutoras parecem operar, em relação ao parto, a partir de continuidades, de elementos que dialogam e têm liminaridades movediças. A participação no grupo, além do papel informativo, é um importante apoio afetivo-emocional, que acolhe e fortalece a decisão das mulheres. Assim, a humanização do parto pode direcioná-las para que assumam o domínio sobre o próprio corpo e o processo de gestar e parir, quando é exercitada a elaboração de um conhecimento de si e de seus corpos. A escolha pelo parto humanizado salta como estratégia de poder, como alternativa para o exercício da autonomia, para escapar de formas de dominação que são praticamente imperceptíveis, mas que constrangem, culpabilizam, classificam e criam hierarquias. Daí algumas mulheres comentarem que parir é libertário. No entanto, independente de como o parto realmente ocorreu, o que parece importar é o questionamento, a posição ativa, o não dobrar-se ao que está posto. Ou seja, o que parece ser transformador é justamente a reflexão, a busca, o exercício de si sobre si mesmo, o cuidado de si. Entre elas, natureza parece ser compreendida como muito além do que o pensamento ocidental está habituado. O uso do termo comporta uma sensação de conexão com o cosmos, com algo maior, em um processo que é, a um só tempo, de transcendência e imanência, na medida em que essa sensação brota do corpo e a ele retorna. Assim, racional e irracional, espiritual e material, controle e descontrole, dor e satisfação, risco e segurança, e outros, assumem composições fluidas e harmônicas que expressam uma continuidade, na qual a experiência de parto se dá e convoca as mulheres à percepção de si como parte da natureza, como iguais a qualquer espécie e como portadoras do divino em si. Isto engendra a produção de subjetividades e a crença em uma mudança social expressa pelo reposicionamento da mulher na sociedade, pelo questionamento do poder de categorias técnicas-profissionais e pela possibilidade de construção de outros saberes e verdades sobre si, sobre o parto, sobre a mulher, sobre a maternidade e além. |