A pluma do rio Amazonas: fonte: dinâmica e transporte de sedimentos para estuários e manguezais do litoral leste amazônico.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: SILVA, Ariane Maria Marques da lattes
Outros Autores: https://orcid.org/0000-0001-9320-9046
Orientador(a): ASP NETO, Nils Edvin lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
Departamento: Instituto de Geociências
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/16336
Resumo: O setor sudeste da Zona Costeira Amazônica (Southeastern Amazon Coastal Zone – SACZ) inclui a mais extensa faixa contínua de manguezais do mundo, com mais de 20 estuários de macromarés. Nessa área, um grande volume de sedimentos finos tem se depositado durante o Holoceno, porém, sabe-se que os rios locais são de água preta, transportando pequenas quantidades de sedimentos em suspensão. Desta forma, nos últimos anos, surgiram questionamentos relacionados às principais fontes e os mecanismos de transporte de sedimentos finos para os estuários e para o desenvolvimento dos manguezais na região. Recentemente, foi evidenciada a existência de uma fonte offshore de sedimentos lamosos para os manguezais. Por sua proximidade, o rio Amazonas tem sido visto como o provável fornecedor de sedimentos, com uma vazão média de 170x103 m3.s-1 e concentração de sedimentos em suspensão de ~80 mg.L-1, o que representaria uma fonte praticamente inexaurível de lama tanto para os estuários quanto para os manguezais. Porém, a proveniência e processos de transporte pelos quais a lama do Amazonas alcançaria a SACZ, propiciando a grande progradação dos manguezais, não são ainda completamente compreendidos, uma vez que, a pluma do Amazonas é principalmente derivada para noroeste. Neste sentido, a constituição sedimentar da plataforma interna e seu retrabalhamento precisam ser também avaliados, bem como a possibilidade de suprimento de lamas a leste da região de estudo. O presente estudo visou a integração e complementação de esforços acerca da dinâmica de sedimentos nos estuários (Mocajuba, Caeté e Gurupi) e manguezais da SACZ, combinando estudos na plataforma continental interna. Para tal, ferramentas e abordagens da hidrodinâmica, sedimentologia e biogeoquímica foram utilizadas para a identificação e entendimento das fontes e mecanismos de transporte de sedimentos lamosos para o setor, compondo um gradiente de distância da foz do rio Amazonas, bem como uma escala de dimensões das bacias hidrográficas locais. O estuário do rio Mocajuba apresenta aspectos bastante peculiares quanto a morfologia e hidrodinâmica. A morfologia do estuário é fortemente influenciada pela evolução estrutural e pelas falhas causadas pelos eventos neotectônicos desde o Neógeno, resultando em áreas profundas e retilíneas nas porções inferior e média do estuário. A maré se propaga estuário adentro sem sofrer significativas deformações, resultado da combinação entre a morfologia herdada e a hidrodinâmica. A salinidade apresentou maiores valores durante os períodos secos, enquanto a concentração de sedimentos em suspensão foi maior durante os períodos chuvosos. A circulação estuarina no Mocajuba é similar aos fiordes, devido a profundidade, porém, sem estratificação de salinidade. Não houve formação da zona de turbidez máxima estuarina devido às áreas de alta profundidade, baixas velocidades de corrente e baixa concentração de sedimentos em suspensão. No entanto, em ambos os períodos, uma “cunha turva” foi observada perto da foz do estuário, evidenciando a influência da pluma do rio Amazonas. O estuário do rio Caeté é classificado como planície costeira, dominado por marés, com regime semidiurno e consideráveis variações durante as fases de sizígia e quadratura. Do ponto de vista científico, este é um dos estuários mais conhecidos da SACZ, com trabalhos abrangendo áreas da geologia, geomorfologia, hidrodinâmica, sedimentologia, geoquímica, biogeoquímica, ecologia em geral, dentre outras áreas. Para a presente Tese, o estuário do Caeté foi considerado um “estuário modelo” devido a localização geográfica (em relação às distâncias da foz do rio Amazonas e dos estuários dos rios Mocajuba e Gurupi), o tamanho da bacia hidrográfica e os dados disponíveis em artigos científicos que comprovam a influência de uma fonte externa de sedimentos finos. O Gurupi é um típico estuário de planície costeira, raso, em formato de funil, dominado por maré, porém, parcialmente misturado. A salinidade e concentração de sedimentos em suspensão foram maiores na foz e diminuíram a montante. A zona de turbidez máxima estuarina foi observada em ambas as estações, porém, o aumento da descarga fluvial atenuou e deslocou essa zona em direção ao mar. A maré se propagou assimetricamente, com efeito hipersíncrono próximo à foz, sendo atenuado a montante. No que se refere a matéria orgânica sedimentar, os dados evidenciaram que as amostras estuarinas apresentam valores de δ13C mais negativos, como resultado da maior influência terrestre e dos manguezais. Os valores de δ13C das amostras coletadas na plataforma interna apresentaram valores menos negativos, indicando mistura entre as fontes de carbono marinha e manguezais. Além disso, os resultados evidenciaram que o tamanho da bacia de drenagem dos rios locais também é um fator relevante na dinâmica de matéria orgânica. O rio Gurupi, por exemplo, é grande o suficiente para contribuir com sedimentos orgânicos e terrígenos para o estuário e para plataforma interna. Em síntese, os estuários da SACZ são caracterizados pelo regime de macromarés, sujeitos aos aspectos particulares da geologia, geomorfologia e do rio local. No estuário do Mocajuba, a morfologia herdada apresentou forte influência nos processos hidrodinâmicos e sedimentares. Por outro lado, no estuário do Gurupi, a elevada vazão fluvial teve papel fundamental na dinâmica estuarina.