Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2014 |
Autor(a) principal: |
Favaretto, Priscila Zanardi |
Orientador(a): |
Guerra, Vânia Maria Lescano |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/2165
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Resumo: |
Este trabalho tem por objetivo problematizar discursos jornalísticos, (re)produzidos no ciberespaço, sobre as crianças indígenas do estado do Mato Grosso do Sul, vítimas de violência, a partir do exame das relações de saber/poder que atravessam esses espaços, as quais constroem estereótipos e excluem o outro. Escamotear o outro, quando diferente de si, é uma prática, embora démodé, habitual desde os primórdios da humanidade; no entanto, se outrora a exclusão foi explícita, nos tempos modernos ela é sutil, é discursiva. Ao pensarmos nos sistemas socioculturais, ideológicos e históricos que produzem efeitos no desenvolvimento da identidade social, temos que fazer emergirem efeitos e incidências dos regimes de verdade sobre a subjetivação da criança indígena, mediante reflexão e desenvolvimento de novos olhares sobre a forma de conceber e tratar a infância desses sujeitos. Diante do exposto, o cerne do questionamento deste estudo consiste em perscrutar as representações da criança indígena em situação de violência, geradas a partir do discurso hegemônico que transita na materialidade do ciberespaço. Para tal, objetivamos problematizar relações de poder que perpassam as práticas discursivas, identificar formações discursivas, interdiscursos e memória discursiva; identificar efeitos de sentido produzidos nos dizeres dos enunciadores, analisando as formas pelas quais a materialidade linguística faz irromper representações estereotipadas e marcas da exclusão social. Partimos do pensamento foucaultiano de que as crianças estão inseridas no grupo composto por indivíduos privados de poder e temos como hipótese de trabalho que a criança indígena é concebida como sujeito marginalizado e vilipendiado, pois ela se encontra à margem da margem social, ora por ser criança, ora por ser gerada dentro de um grupo minoritário, moldada a partir de exclusões históricas. A pesquisa, mediada por um enfoque transdisciplinar e orientada pelo método arqueogenealógico foucaultiano (FOUCAULT, 1972, 1988, 1997, 1999, 2007), ancora-se na Análise do Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1969, 1991, 1999, 2012). Para entrecruzar os dados da análise, utilizamos autores das teorias discursiva-desconstrutivista e culturalista, como Coracini (2000, 2007, 2010, 2013), Orlandi (1983, 1987, 2005, 2008), Guerra (2006, 2008, 2010, 2013), Nolasco (2009), Limberti (2009, 2012), Agaben (2010), Bauman (2005), Castells (1999), Santaella (2002), Lévy (1993, 2001), entre outros. O córpus foi constituído por seis excertos advindos de diferentes sites, publicados entre os anos de 2007 e 2013. O critério de seleção utilizado consistiu na priorização de materiais que discorressem de forma mais detalhada sobre violência contra crianças indígenas, tomando-a como um acontecimento discursivo. No primeiro capítulo, intitulado "Tecendo o fio teórico para coser a reflexão e cerzir os sentidos", trazemos o arcabouço teórico utilizado em nossa pesquisa. No capítulo seguinte – “Infância indígena vilipendiada, infância indígena violentada" –, mobilizamos as condições de produção que ancoraram a irrupção dos excertos analisados, a partir das concepções de infância e de violência, perpassadas pela compreensão do ciberespaço, no tocante à comunidade indígena sul-mato-grossense. No último capítulo – "Da infância à violência, da violência à infância: processos de contradição e exclusão" –, problematizamos a materialidade linguística, reforçada na virtualidade, sobre as crianças indígenas vítimas de violência. Encontramos representações da criança indígena pautadas em visões estereotipadas, marcadas, sobretudo, por posicionamentos contraditórios. Os excertos ora mobilizam representações da criança como um sujeito vitimizado pelos próprios responsáveis, ou pela própria comunidade indígena; ora indicam representações da criança responsável e culpada pelo fenômeno da violência que a afeta. A despeito das representações contraditórias, o que ora salta aos olhos, ora é silenciado são marcas de exclusão que a criança e a comunidade indígena carregam: inferiores, incapazes e anormais. Diante da problemática discutida, espera-se que as reflexões construídas possam fomentar outros estudos transdisciplinares sobre os processos identitários dos indígenas e sobre a sua exclusão social, cujos mecanismos podem funcionar como dispositivos para produzir um entendimento multicultural das crianças e da sociedade. |