(Re) Conhecendo o Ciclo Hidrossocial: os movimentos da água na Comunidade Quilombola da Tapera (RJ)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Imbelloni, Ana Caroline Pinheiro lattes
Orientador(a): Felippe , Miguel Fernandes lattes
Banca de defesa: Batella, Wagner Barbosa lattes, Iorio, Gustavo Soares lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Geografia
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11746
Resumo: Compreender a forma como a água circula no planeta é essencial tendo em vista a relevância desta para as mais diversas formas de vida, inclusive a dos seres humanos. Há algum tempo, a forma mais usual de representar estas movimentações da água na Terra é a partir do ciclo hidrológico, modelo que consegue fazer o incrível trabalho de simplificar e representar movimentos tão complexos como os da água. A partir deste modelo, compreendemos a precipitação, infiltração, percolação, evaporação, transpiração das plantas e a drenagem, e isso nos permite ter um controle e gestão muito interessantes. Contudo, percebeu-se que ainda havia a ausência de mais um fator essencial que movimenta a água consideravelmente e que aparece inviabilizado neste processo: os seres humanos. A partir desta crítica, surge na década de 1990 o conceito do ciclo hidrossocial, forma de enxergar a água que não desconsidera o ciclo hidrológico tão rico em informações, contudo ele oferece mais uma lente para a visibilidade de outros movimentos antes não vistos. Ele compreende a interação entre águas e seres humanos e percebe que a manipulamos de diversas maneiras, seja por obras hidráulicas, legislações, práticas culturais, entre outras, nós as tiramos do seu “caminho dito natural” pelo ciclo hidrológico e a colocamos na rota da nossa vida. O trabalho propõe entender melhor o ciclo hidrossocial, de forma a ver na prática os movimentos sociais que as águas fazem, e para isso se pensou em uma combinação de metodologias: a cartografia social, a investigação comunicativa e a caminhada guiada, que auxiliariam nessa proposta de enxergar os movimentos das águas que nossos olhos não estão treinados a ver. O trabalho foi realizado na comunidade quilombola do município de Petrópolis, RJ, localizado na região de Itaipava, chamado Tapera. Essa comunidade, que também é rural, possui uma relação muito intrínseca com a água, com um manejo hidráulico ancestral e que trazia a água dos diversos rios existentes para perto de si. Essa água fluía durante todo dia, em todos os quintais, retornando então para os rios. Contudo, as grandes chuvas de janeiro de 2011 fizeram um grande marco em sua história, de forma que hoje contam sua trajetória como a Tapera antes das chuvas e a Tapera depois das chuvas. Depois de dois anos fora de seu território, retornaram após o reassentamento construído pela prefeitura, só que agora em local mais distante do rio. A forma da comunidade lidar com a água mudou drasticamente. Ao mesmo tempo em que passaram a possuir mais comodidade, algumas relações mudaram fortemente, inclusive com relação à água. Hoje toda a comunidade depende de apenas uma nascente para abastecê-la, barrando todo seu fluxo e estocando, de forma que enxergam a água apenas no abrir e fechar das torneiras. Com isso, é possível ver que com tecnologias de alguém de fora, implantou-se na área rural uma forma bem urbana de tratá-la. O rio que aparece nas informações do IBGE não segue mais aquele trajeto, não porque deixou de existir, mas sim porque agora percorre um caminho social, passando pelas casas e mudando completamente de qualidade até ser levado ao ambiente novamente. A partir do trabalho, conseguimos enxergar estes e outros movimentos sociais, além de propor uma metodologia relevante para o conhecimento do ciclo hidrossocial da Tapera, conhecemos uma comunidade importantíssima e cheia de histórias de forma que conseguimos ver, pelo menos em parte, o seu ciclo hidrossocial.