Testemunhos presentes — “Solução de dois estados”, de Michel Laub: ficção e memória na literatura contemporânea brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Fonseca, Mauro Gabriel Morais da lattes
Orientador(a): Silva, Anderson Pires da lattes
Banca de defesa: Pereira, Prisca Rita Agustoni de Almeida lattes, Chiarelli, Stefania Rota lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/17665
Resumo: O presente trabalho investiga a relação de entrelaçamento e espelhamento entre a memória e a ficção na literatura contemporânea brasileira, a partir da obra Solução de dois estados, do escritor Michel Laub. Publicado em 2020, o romance reúne a transcrição das entrevistas de dois irmãos para uma cineasta alemã que investiga, por meio de um documentário, a formação dos discursos de ódio na segunda década do século XXI. Na rememoração, que considera aspectos familiares dos irmãos, além de questões políticas, sociais e culturais do Brasil desde os anos 1990, convivem subjetividades e perspectiva histórica, numa recuperação que Beatriz Sarlo (2007) nomeia como retórica testemunhal. Para Márcio Selligmann-Silva (2017), é justamente o testemunho que faz borrar os limites entre ficção e “realidade”. Essa busca pela realidade está expressa como marca do romance brasileiro contemporâneo, como observa Beatriz Resende (2008) ao elaborar o conceito de “presentificação”, reforçado por Karl Erik Schøllammer (2009), que identifica uma “vocação realista” (2012, p. 134) na literatura brasileira, cujas formas se alteram nos dias que correm, numa urgência pelo presente. Já em seu Formação da literatura brasileira (2000), Antonio Candido aponta para o realismo como uma tradição literária nacional. A perseguição ao realismo em Solução de dois estados se expressa no relato de subjetividades que não contribuem para a formação da memória coletiva das últimas décadas no Brasil. A ficção, pontua Sarlo, “pode representar aquilo sobre o que não existe nenhum testemunho em primeira pessoa” (Sarlo, 2007, p. 118). Ainda, o romance de Laub faz-se exemplar também de uma memória perseguida como estratégia narrativa, emulando um processo de seleções, com apagamentos e recuperações, com vãos e “lembranças simuladas” (como conceitua Maurice Halbwachs, em A memória coletiva, acerca das formulações cuja tônica é ocupar os vazios), com tensões e enraizamentos, numa fragmentação própria da pósmodernidade e da memória, que assume uma centralidade na sociedade do presente.