Casa da linguagem: identidades arruinadas e a literatura judaico-brasileira no século XXI

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Ferreira, Alice Cardoso lattes
Orientador(a): Carrizo, Silvina Liliana lattes
Banca de defesa: Pereira, Maria Luiza Scher lattes, Daibert, Bárbara Inês Ribeiro Simões lattes, Campos, Laura Barbosa lattes, Roani, Gerson Luiz lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/5937
Resumo: A partir de dois movimentos imigratórios para o Brasil no século XX, dos pogroms na Rússia e da Shoah, a produção literária judaico-brasileira e/ou brasileiro-judaica criada pela segunda geração advinda dessas diásporas carrega consigo conceitos como a memória, o trauma e a continuidade. Como expressão da primeira onda e a produção da segunda geração advinda dela, os livros do autor gaúcho Moacyr Scliar com temática bíblica, A mulher que escreveu a bíblia, Os vendilhões do Templo e Manual da paixão solitária, são analisados de acordo com a modulação feita por Cynthia Ozick sobre a metáfora na sua construção histórica; sob o ponto de vista desenvolvido por Amós Oz e Fania Oz-Salzberger sobre a continuidade das culturas judaicas terem como fundamento a palavra escrita; e também como midrashim agádigos, na definição de Leopoldo de Oliveira, na estrutura interpretativa, narrativa e exegética judaica. Da segunda onda imigratória, e igualmente na produção literária de sua segunda geração, há em comum dois sobreviventes de Auschwitz e seus diários escritos depois da libertação. O primeiro, por d. Lili Jaffe, está contido em O que os cegos estão sonhando?, de Noemi Jaffe, e o diário fictício do avô do narrador de Diário da queda, de Michel Laub, analisados sob o ponto de vista da literatura de testemunho e da pós-memória, nas definições de Marianne Hirsch, que traz para a discussão sobre o trauma a especificação da possibilidade de sua transmissão para as três ou quatro gerações seguintes dos sobreviventes. Os livros têm em comum o fato de terem sido publicados entre o final do século XX e as primeiras décadas do século XXI, por possuírem como conteúdos temas como a transmissão, em termos de continuidade cultural, da palavra escrita e sua interpretação e do trauma. A análise se efetiva através da ruína como latência, norteadora do trabalho, por seus conteúdos terem a possibilidade de se manifestar, e assim, também indicarem um caráter messiânico nos fenômenos históricos. A primeira a compor essa estruturação é o sentido construído por Jacques Derrida sobre o arquivo e a sua intenção de sondagem da origem eventual. A segunda, por Giorgio Agamben, associa a ruína ao resto, um sinônimo dele com as testemunhas dos lager, as lacunas históricas com possibilidade de preenchimento, interpretação textual e também de revisão. A terceira foi feita por Benjamin: ao estruturar o drama trágico (trauerspiel) como gênero textual, ele trabalha a ruína como no contexto do Barroco, associando-a à decadência, ao fim, se pautando na concepção alegórica. A história, conforme consta em suas Teses (1940), contada a contrapelo, tem o seu ponto de vista assumido pelos vencidos; as minorias são as personagens centrais dos quatro romances e do diário de d. Lili e relato de Jaffe, em análise. Portanto, ao ser trazida a ruína em suas especificações para a análise dos livros, saltam deles e entre eles a continuidade, a metáfora, a metonímia, a alegoria, a palavra escrita e uma linhagem que não prescinde do sangue, somente.