Conhecimento linguístico e Teoria da Mente: investigando a interface gramática-pragmática na aquisição do português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Alves, Juliana Pacassini lattes
Orientador(a): Teixeira, Luciana lattes
Banca de defesa: Leitão, Márcio Martins lattes, Areas, Eduardo Kenedy Nunes lattes, Almeida, Sandra Aparecida Faria de lattes, Vieira, Amitza Torres lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/6600
Resumo: Esta tese focaliza a interface Linguagem e Teoria da Mente (ToM – do inglês Theory of Mind), buscando-se investigar as demandas cognitivas envolvidas no raciocínio de Crenças Falsas (CFs) por crianças de 5-6 anos em fase de aquisição do Português Brasileiro e de desenvolvimento da ToM. Verifica-se em que medida subclasses de verbos de estado mental encontram-se relacionadas, como o verbo factivo saber e os verbos epistêmicos pensar/achar, na realização de tarefas de CFs de 2ª ordem por crianças nessa faixa etária. Considera-se o conceito de ToM como a capacidade sociocognitiva de o indivíduo reconhecer seus próprios estados mentais e os dos outros e, a partir deles, predizer ações ou comportamentos (ASTINGTON & GOPNIK, 1988, 1991; WELLMAN, 1991, 2017). Assume-se uma concepção minimalista de língua (CHOMSKY, 1995 – atual) e, de forma mais específica, de faculdade da linguagem, nos termos de Hauser et al. (2002). Propõese uma investigação acerca da interface gramática-pragmática, adotando-se uma teoria pragmática formal de natureza cognitiva, conforme a perspectiva da Teoria da Relevância (SPERBER & WILSON, 2001; 2002). A hipótese que norteia este estudo é a de que perguntas prévias de compreensão e orientação, inseridas em testes clássicos de CF de 2ª ordem, minimizam a sobreposição de demandas cognitivas linguísticas e não especificamente linguísticas envolvidas nesses testes. Parte-se da proposta de de Villiers (2004, 2005 e 2007), para quem a sintaxe de complementação é um pré-requisito para o desenvolvimento da ToM, propondo-se a existência de outros fatores diretamente relacionados ao domínio dessa habilidade. O objetivo geral deste estudo é o de propor, em termos metodológicos, estratégias que permitam à criança organizar/recuperar informação disponível na memória e distinguir pontos de vista, habilidades cognitivas necessárias ao raciocínio de crenças falsas. Para tanto, foram elaborados dois conjuntos de experimentos, subdivididos em 4 etapas cada um, com vistas a investigar especificamente: (i) se a estrutura sintática da pergunta-alvo do teste clássico de CF de 2ª ordem, com um ou dois verbos epistêmicos, interfere no desempenho das crianças que realizam a tarefa; (ii) se o tipo de verbo epistêmico (pensar ou achar) da pergunta-teste, com apenas um encaixamento estrutural, contribui para a compreensão de CFs de 2ª ordem; (iii) se alterações metodológicas na aplicação da tarefa clássica, por meio da inserção de perguntas prévias à pergunta-teste, auxiliam o raciocínio de CF de 2ª ordem; e (iv) em que medida a factividade se correlaciona com a atribuição de crenças falsas. Os resultados sugerem que a adaptação da tarefa, com a inserção de perguntas de orientação, contribui para a condução do raciocínio de CF de 2ª ordem, havendo maior índice de acertos, sobretudo, no grupo que realizou o experimento com a pergunta prévia com o verbo factivo saber. Além disso, com base no desempenho melhor das crianças na tarefa realizada com o verbo pensar, quando comparado ao verbo achar, os resultados indicam que o verbo epistêmico pensar pode ser uma pista linguística eficiente à criança para a compreensão de diferentes pontos de vista. Esta pesquisa pretende contribuir para aprofundar as discussões acerca da relação entre Linguagem e Teoria da Mente, na medida em que apresenta uma proposta de modificação metodológica para as tarefas comumente realizadas como meio de investigação do desenvolvimento da ToM.