A relação entre os verbos factivos e epistêmicos na compreensão de tarefas de crenças falsas de 1ª ordem na aquisição do português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Alves, Juliana Pacassini lattes
Orientador(a): Teixeira, Luciana lattes
Banca de defesa: Areas, Eduardo Kenedy Nunes lattes, Name, Maria Cristina Lobo lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/924
Resumo: Neste trabalho, investigam-se demandas cognitivas, linguísticas e não linguísticas, no desempenho de crianças de 3-4 anos e de 5-6 anos adquirindo o Português Brasileiro (PB) em tarefas-padrão de crenças falsas (CFs) de 1ª ordem, verificando-se a relação entre os verbos factivos e epistêmicos na realização dessas tarefas. Parte-se do conceito de Teoria da Mente (ToM) entendido como a área de estudo que busca conhecer a natureza da habilidade do ser humano de compreender suas próprias crenças, para, através do seu próprio conhecimento, ser capaz de predizer as suas ações e as dos outros (ASTINGTON & GOPNIK, 1988, 1991; FELDMAN, 1992; WELLMAN, 1991). Assume-se uma perspectiva psicolinguística de aquisição de linguagem baseada na hipótese do bootstrapping sintático (GLEITMAN, 1990), segundo a qual a análise da estrutura sintática dos enunciados é fonte significativa de informação para a criança na identificação/construção de significado lexical. Assume-se ainda uma concepção minimalista de língua (CHOMSKY, 1995-2001), a qual concebe a faculdade de linguagem em sentido estrito (que corresponde ao sistema computacional) e em sentido amplo (que inclui o primeiro e os demais sistemas que atuariam juntos na derivação das sentenças em uma determinada língua). Questiona-se a proposta de de Villiers (2005 e 2007), segundo a qual a sintaxe de complementação é um pré-requisito para que o domínio da ToM se estabeleça. Consideram-se, por fim, estudos recentes sobre factividade, discutindo-se a capacidade da criança em atribuir um traço semântico diferenciador às subclasses de verbos de estados mentais (DIAS, 2012), reconhecendo aqueles que se manifestam como factivos e os que se manifestam como epistêmicos. Foram elaborados três pré-testes (baseados em SILVA, 2012), a fim de se a verificar: (i) se crianças de 3-4 e 5-6 anos identificam o significado do verbo factivo “saber” e do verbo epistêmico “pensar”, associados ao valor de verdade de uma sentença; (ii) se essas crianças reconhecem o significado do verbo epistêmico “achar” em comparação ao verbo factivo “saber”, numa situação em que não há evento de CF; (iii) se essas crianças compreendem o significado do verbo “achar” (com sentido de “encontrar” e com sentido de “pensar”). Foi desenvolvido um experimento aplicando-se a tarefa clássica de CF de mudança de localização, e uma tarefa de CF adaptada (com 3 perguntas orientadoras, com os verbos “deixar”, “ver” e “saber”), com vistas a investigar se a presença da orientação melhora o desempenho das crianças menores na realização dessas tarefas, na medida em que esses verbos retomam aspectos importantes ligados à observação da cena e à recuperação de informação da memória, antes de se fazer a pergunta-alvo da tarefa. As atividades foram realizadas com dois grupos de 24 crianças com idade entre 3-4 anos (um grupo com orientação e um grupo sem orientação), e um grupo de 24 crianças com idade entre 5-6 anos (com orientação). As variáveis manipuladas foram: o tipo de sentença (simples e complexa); o tipo de QU- (in situ e deslocado); o tipo de tarefa de CF (com orientação e sem orientação), além da faixa etária (3-4 anos e 5-6 anos). A hipótese é a de que a presença de perguntas de orientação, envolvendo subclasses de verbos, entre eles os factivos, auxilia o desempenho da tarefa clássica de CF. As atividades foram desenvolvidas através do paradigma de produção eliciada. Os resultados desse primeiro experimento indicam que a presença de perguntas com verbos que orientam o raciocínio de CFs contribui para a realização desse tipo de tarefa. Além do experimento 1, foi desenvolvida outra atividade experimental, com vistas a se verificar se há diferença quanto ao tipo de verbo presente na pergunta de orientação, como fator facilitador na compreensão da tarefa. Dois novos grupos de 24 crianças com idade entre 3-4 anos foram testados, realizando-se apenas uma pergunta de orientação por vez (ora com o verbo “ver”, ora com o verbo “saber”). A análise estatística dos dados revela uma diferença marginalmente significativa em relação ao tipo de verbo, havendo maior número de acertos no grupo que realizou a tarefa de CF com orientação cuja pergunta continha o verbo “saber”. O trabalho proposto traz uma contribuição metodológica que pode aprofundar a discussão acerca da interface linguagem/teoria da mente no processo de aquisição do PB.