Resumo: |
A organização da conversação em turnos de fala é básica para a interação comunicativa e se constitui uma estrutura de conhecimento dos interlocutores acerca dos usos de linguagem. Pascual (2002, 2006, 2014; PASCUAL; SANDLER, 2016) reconhece a existência de uma base conversacional para o pensamento, a língua e o discurso, a qual contribui para o uso do frame de conversação com o intuito de estruturar/modelar a cognição, o discurso e a gramática (PASCUAL, 2014), uso este que define o fenômeno da Interação Fictiva (IF). O uso fictivo do frame de conversação é licenciado pelo padrão cognitivo de representações discrepantes de um mesmo objeto, onde o conceptualizador é capaz de produzir e interpretar sentenças ora mais verídicas, ora menos verídicas. Ancorada nas teorias de Fictividade (TALMY, 1996, 2000; LANGACKER, 1999, 2008), metáfora (LAKOFF; JOHNSON, 1980) e Espaços Mentais (FAUCONNIER, 1994, 1997; FAUCONNIER; TURNER, 2002), esta dissertação visou ao mapeamento de ocorrências de Interação Fictiva em cinco conversações do domínio familiar/privado do C-ORAL BRASIL I (RASO; MELLO, 2012), corpus de fala espontânea do português brasileiro, através de leituras e análises com o auxílio das oitivas. Tendo em vista que o fenômeno pode assumir diversas formas e funções específicas, adotouse uma abordagem metodológica mista baseada em corpus (corpus-based) e movida a corpus (corpus-driven) (SARDINHA, 2004; TOGNINI-BONELLI, 2001), de modo a permitir que o próprio dado mostre as suas particularidades e funções dentro do discurso. Realizou-se, portanto, uma análise do uso real da linguagem, respeitando sua complexidade e dando proeminência à intenção do falante ao fazer o uso de determinadas estruturas. Observou-se que o falante lança mão da IF quando há a necessidade de explicação ou instrução detalhada ou quando há a intenção de persuadir ou convencer o(s) ouvinte(s). Em vista disso, postula-se a IF como uma estratégia comunicativa do português brasileiro capaz de solucionar local e parcialmente conflitos de ordem interacional, como afirma Rocha (2018). |
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