Angústia e amor na teologia e na psicanálise: Oskar Pfister e sua interlocução com Sigmund Freud

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Albuquerque, Bruno Pinto de lattes
Orientador(a): Noé, Sidnei Vilmar lattes
Banca de defesa: Roos, Jonas lattes, Almeida, Edson Fernando de, Bingemer, Maria Clara Lucchetti, Mello, Denise Maurano de, Wondracek, Karin Ellen Kepler
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://doi.org/10.34019/ufjf/te/2023/00025
https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/15484
Resumo: Poucas figuras tiveram uma influência tão significativa, para a história da complexa interação dialogal entre psicanálise e experiência religiosa, quanto Oskar Pfister, pastor em Zurique e interlocutor de Sigmund Freud. Na medida em que o edifício teórico-clínico de um novo saber sobre o psiquismo humano se espraiava, desde Viena, até Zurique, as consequências desta escuta, à qual os psicanalistas se dedicavam em seus consultórios e nas instituições de saúde, alcançaram o ambiente eclesial, ainda que timidamente, inspirando um apaixonado cuidador de almas, a trazer a consideração do inconsciente para dentro da igreja. No trabalho pastoral, este teólogo e psicanalista dedicou-se a tratar variados distúrbios da capacidade amorosa de desfrutar a vida, apropriando-se de conceitos freudianos, para compreender as dinâmicas da fé religiosa de pessoas concretas. Foi assim que, partindo de sua experiência durante décadas dedicadas à cura analítica de almas, o pastor suíço empreendeu uma ampla revisão da história do cristianismo, procurando interpretar diferentes fases, por meio de sua formação nas teologias reformadas pietista e liberal, por um lado, e, por outro, através da metapsicologia freudiana. De modo particular, esta leitura original do cristianismo sublinha os elementos de intensificação e de amenização da angústia, presentes nesta tradição religiosa, correlacionando-os aos movimentos de aproximação ou distanciamento da fonte de amor, que conecta o cristão, segundo sua crença, ao próprio Deus, através de Jesus, o Cristo. Procura-se, então, apresentar e discutir criticamente a tese pfisteriana, segundo a qual, a psicodinâmica inconsciente do cristianismo se caracteriza enquanto tratamento da angústia, através do amor. Destaca-se que a hipótese do autor, tal como formulada em O cristianismo e a angústia, configura-se tal como uma resposta teológica e psicanalítica à crítica freudiana da crença religiosa. Este esforço de reflexão teórica não está isento de dificuldades, pois se, por um lado, a angústia, nos desdobramentos mais avançados da teoria freudiana, não poderia ser reduzida a uma deformação do amor, por outro, a realidade salvífica envolvida na práxis cristã de ágape, em sua dimensão de promessa escatológica, não pode ser reduzida à concepção psicanalítica e freudiana de eros. Não obstante, indicar os caminhos através dos quais foi realizada esta trajetória, mostra-se relevante para salientar a originalidade da proposta pfisteriana, ao construir uma leitura psicanalítica da tradição cristã, que não parte do mesmo ponto de vista do criador da psicanálise, adepto do ateísmo, mas assume, enquanto pressuposto epistemológico, a Revelação anunciada pela fé cristã, enquanto cosmovisão religiosa, esperança soteriológica e imperativo ético. Por fim, procura-se distinguir as deformações piedosas ocorridas na história do cristianismo, através da análise que Pfister empreende do conde Ludwig von Zinzendorf, por um lado, e, por outro, a sublimação criativa, pela via de uma “mística transferencial”, conforme expressão do pastor, que vincularia o crente à pessoa e ao legado de Jesus de Nazaré. Esta conexão com a encarnação amorosa de Deus pode ser, parcialmente, compreendida psicologicamente, sem que, por isto, queira-se reduzi-la a um psicologismo, que desconsidere a dimensão da espiritualidade. Deste modo, conclui-se que uma dimensão fundamental do Evangelho, na perspectiva pfisteriana, consiste em uma experiência de sentir-se chamado, por Cristo, a se dedicar à tarefa de transformação da angústia, própria à condição humana de desamparo fundamental, por meio de uma construção amorosa da própria existência, em constante atitude de nutrição dos vínculos relacionais com Deus, com as outras pessoas e com a natureza.