Mercantilização da linguagem no ensino de inglês

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Servelati, Fabrício Côrtes lattes
Orientador(a): El-Jaick, Ana Paula lattes
Banca de defesa: Salgado, Ana Cláudia Peters lattes, Silva, Daniel do Nascimento e lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://doi.org/10.34019/ufjf/di/2022/00390
https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/15071
Resumo: Este trabalho tem o objetivo de avaliar elementos norteadores de minha prática docente no ensino de língua inglesa em cursos livres, tendo como problema central a constatação de que reflexões pertinentes à nossa realidade local são negligenciadas ou francamente apagadas do trabalho em sala de aula. Partindo da premissa de que, no contexto socioeconômico neoliberal da atualidade, recursos linguísticos podem ser comercializados como um produto em troca de capital (HELLER, 2010; PARK, 2010; 2011; 2015), busco compreender quais características constroem a língua inglesa como um produto passível de ser mercantilizado, tomando como evidências minhas experiências em cursos de idiomas locais. Os dados empíricos para estas reflexões são apresentados através de narrativas autoetnográficas (ANDERSON, 2006) em cada capítulo. Em primeiro lugar, através das lentes da Filosofia da linguagem ordinária de L. Wittgenstein (1999[1953]), investigo como o ensino de inglês tem seus entendimentos sobre a natureza da linguagem e sobre o que seria aprender e usar uma língua fundamentados em uma ideologia de linguagem (BLOMMAERT, 2006) sistêmica, representacionista e essencialista. Em seguida, verifico como tais crenças e discursos (FOUCAULT, 2008a[1969]) que reproduzimos sobre a língua inglesa como um sistema simbólico e competência natural de determinado povo em determinado território, e sobre como ensiná-la e como aprendê-la denunciam uma colonialidade do saber (LANDER, 2005; MIGNOLO, 2005; QUIJANO, 2005; 2010), haja vista que todos os materiais que usamos no ensino, assim como cursos de treinamento de professores e certificações legitimadoras de proficiência linguística, são produções da indústria linguística europeia que consumimos ávida e acriticamente. Finalmente, no contexto da modernidade recente em que relações profissionais e sociais são orientadas pela ideologia neoliberal (FOUCAULT, 2008b; HAN, 2020; HARVEY, 2005), observo como a língua inglesa é construída discursivamente como uma habilidade valorizada para a elevação do capital humano dos indivíduos (PARK, 2015; URCIUOLI, 2008) e quais contribuições são dadas pelo ensino de inglês para a formação dos sujeitos (FREIRE, 2021[1968]; PENNYCOOK, 2001; 2017). Como resultado dessas análises, defendo que a mercantilização da língua inglesa atende exclusivamente a objetivos econômicos imediatistas, dissimula as reais condições de aprendizagem do idioma e seu papel nas relações sociais, culturais, profissionais e econômicas, e contribui para a formação de sujeitos individualistas e competitivos; sustento, de modo mais geral, que um ensino orientado por princípios mercadológicos, que privilegia uma prática de aprendizagem pela qual o conhecimento é visto como descontextualizado das relações socioculturais e políticas em que existe, não contribuipara a formação de sujeitos críticos (PENNYCOOK, 2001; 2017), isto é, indivíduos que, mediante constantes problematizações e reavaliações de suas crenças e de relações de poder e de conhecimento, poderiam agir em coesão com os grupos sociais aos quais pertencem para transformar sua realidade.