A construção superlativa sintética de estados absolutos com o sufixo –íssimo: um caso de desencontro/ mismatch morfológico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Machado, Patrícia Miranda lattes
Orientador(a): Miranda, Neusa Salim lattes
Banca de defesa: Salomão, Maria Margarida Martins lattes, Oliveira, Aparecida Araújo lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística
Departamento: Faculdade de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/2149
Resumo: Assumindo a perspectiva sociocognitiva e construcionista configurada pela Linguística Cognitiva (LAKOFF, 1987, 1993; JOHNSON, 1987; LAKOFF & JOHNSON, 1980[2002], 1999; SALOMÃO, 1999, 2009a, MIRANDA, 1999; CROFT & CRUSE, 2004; SILVA, 1997) e pelos Modelos de Uso da Gramática das Construções (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT & CRUSE, 2004; SALOMÃO, 2009b; MIRANDA, 2008b, TRAUGOTT, 1995), o presente trabalho busca investigar um dos nódulos da rede de construções superlativas do Português aqui nomeado como Construção Superlativa Sintética de Estados Absolutos (CSSEA). Trata-se de uma construção morfológica formada a partir da integração de um núcleo que remete a um estado absoluto não-graduável (desempregada, casada, grávida) com um operador de escala superlativa (- íssimo/a). O resultado são types como desempregadíssima, casadíssima, gravidíssima, formadíssima. A escolha metodológica, ditada pelo compromisso da Linguística Cognitiva com a empiria, levou ao trabalho com corpora naturais. Dentro dessa abordagem, procedeu-se à constituição de um corpus específico da construção baseado em dados reais e espontâneos de uso linguístico, através do concordanciador eletrônico Web Concordancer beta - http://webascorpus.org/searchwac.html. Nosso corpus se configura a partir de um universo total de 8.189.656 palavras em que foram investigados 30 types e registrados 1757 tokens. A configuração da CSSEA aponta para o fenômeno do desencontro/ mismatch (FRANCIS & MICHAELIS, 2000; TRAUGOTT, 2007; TRAUGOTT, 2006), uma vez que evidencia incongruências entre as propriedades semântico-formais das unidades que integram este padrão - o afixo superlativo -íssimo e o item lexical por ele graduado. Essa incongruência da construção é abordada a partir das relações polares de contrário e contradição, descritas por Israel (2004). Assumindo a hipótese de que a CSSEA é uma construção, propomos, como tarefa analítica principal, a descrição de seus polos formal e semântico-pragmático. Quanto aos aspectos formais, encontramos três padrões construcionais da CSSEA definidos por núcleos Adjetivos, Substantivos e Adverbiais. O padrão formal majoritário da CSSEA (76,5%) é constituído por radicais deverbais participiais (casado, namorado, eleito, comprado...). No que se refere à Semântica da CSSEA buscou-se desvelar as cenas conceptuais/frames a que se vinculam os seus types e recobrir o novo perfilamento dado a tais cenas. Assim, postulamos a presença de dois tipos de perfilamento nos contextos discursivos da CSSEA: i. Perfilamento por Traços; ii. Perfilamento por Contradição. A configuração do habitat discursivo da CSSEA, caracterizada pela informalidade, delineou-se através de três categorias de análise em relação ao texto fonte: (i) temática principal, (ii) gêneros discursivos e (iii) público alvo. Nossas análises puderam consolidar a hipótese inicial de que a CSSEA se constitui como um padrão construcional de uso específico dentro da rede de Construções Superlativas do Português. Foram também atestados a produtividade significativa da construção e o processo de convencionalização de alguns de seus types no Português do Brasil em ambientes discursivos marcados pela informalidade.