Resumo: |
No presente trabalho, o sistema prisional brasileiro foi situado historicamente como pano de fundo para a discussão sobre jogos de poder, em uma perspectiva que enxerga a prisão enquanto dispositivo disciplinar na atuação para com a criminalidade, o tráfico de drogas e o aprisionamento feminino. Tratou-se de problematizar a construção social do sujeito feminino, a partir da análise das categorias gênero e sexo, assim como a criminalidade feminina enquanto possibilidade de agenciamento frente à subalternidade. Traçou-se um percurso histórico que buscou compreender o processo de aprisionamento de mulheres e os jogos de poder que produzem e fabricam os corpos e determinam os comportamentos que serão punidos. Foram analisadas as questões de gênero ligadas ao corpo e aos marcadores históricos que permitiram à mulher a apropriação de si, partindo da hipótese de que as mulheres possuem autonomia e buscam condições de existência através do agenciamento de seus corpos e vidas. Nesse sentido, esta pesquisa foi desenvolvida com mulheres presas pelo crime de tráfico de drogas, especificamente aquelas que utilizaram seus corpos para o transporte de drogas para dentro do sistema prisional. A partir da Análise do Discurso foucaultiana, buscou-se identificar condições de abjeção ou de agenciamento dos corpos dessas mulheres, analisar práticas de cuidado de si, descrever enunciados de gênero e compreender as circunstâncias do envolvimento destas mulheres com o crime cometido. Como técnicas de produção de dados, foram utilizadas entrevistas exploratórias, análise documental, notas em diário de campo e observação participante. A pesquisadora, por ser psicóloga da penitenciária em que se realizou a pesquisa, pôde observar esse fenômeno e suas nuances a partir da imersão no campo, de inspiração etnográfica. Como resultados da pesquisa concluiu-se que tal fenômeno, o uso do corpo para o cometimento do crime, revelou-se a partir da fala de cada mulher participante da pesquisa contendo nuances que demarcam posições de abjeção e agenciamento de si, em práticas de existências ancoradas nas experiências vividas e nas marcas que trazem nos próprios corpos. |
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