Relações saber-poder: discursos, tensões e estratégias que (re)orientam a constituição do livro didático de matemática

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Santos, José Wilson dos lattes
Orientador(a): Silva, Marcio Antonio da lattes
Banca de defesa: Wanderer, Fernanda lattes, Traldi Junior, Armando lattes, Freitas, José Luiz Magalhães de lattes, Santos, João Ricardo Viola dos lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Educação Matemática
Departamento: Instituto de Matemática
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/2451
Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo analisar e descrever o modo como o livro didático de Matemática situa-se em um terreno árido de disputas constantes, onde as relações de poder que atravessam o campo da produção didática produzem normatizações e instituem práticas que o constituem. Inspirados nos estudos de Michel Foucault – mais especificamente nas relações saber-poder, análise do discurso e governamentalidade – bem como na perspectiva de pesquisa cartográfica proposta por Kastrup, mobilizamos como principal recurso para produção dos dados entrevistas com autores reconhecidos no campo da produção didática de Matemática e com editores, designers, freelancers, ex-integrantes do Programa Nacional de Livros Didáticos e professores da rede pública de ensino. A partir da construção/análise dos dados, organizamos o texto em quatro capítulos iniciais, nos quais se discorre sobre temáticas que apresentam uma compreensão geral do campo, bem como dos fundamentos teórico metodológicos mobilizados. Complementam o texto cinco artigos que podem ser lidos de modo independente, cujas articulações possibilitam uma compreensão da pesquisa como todo. Tais artigos enfocam: a idealização do livro didático de Matemática a partir dos discursos que compõem o campo de sua produção (primeiro artigo); os processos de normatizações, vigilância, exame e classificação presentes no ambiente panóptico da produção didática de Matemática (segundo artigo); as relações de poder que atuam na produção em rede, promovendo o aparecimento e desaparecimento do autor, bem como a emergência de ghost writers (terceiro artigo ); as múltiplas direções no fluxo do poder e os reajustes que este suscita por meio da contra-conduta (quarto artigo); e o modo como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é afetado pelas relações de poder, atuando como instrumento de uma governamentalidade neoliberal (quinto artigo). Esse percurso conduz à compreensão da produção do livro didático de Matemática como espaço por onde circula um poder metamorfo, que se adapta para sobreviver. Sob a lente foucaultiana,podemos identificar elementos de um poder disciplinar em diferentes setores dessa produção,ambiente panóptico onde livros e sujeitos, após examinados, comparados, pesados, medidos,são valorados sob parâmetros meramente econômicos. Como efeitos dessas relações,produzem-se sujeitos úteis, docilizados, normatizados, transformando todos e cada um,vigilantes e vigiados. No limite, vigilante de si mesmo. Nesse contexto, os resultados de pesquisas focus group, a leitura das enunciações dos professores, as estatísticas e os relatórios produzidos a partir das avaliações pedagógicas do PNLD, entre outros mecanismos, destacam a intrínseca relação saber-poder, à medida que são os saberes produzidos na rede que movimentam o poder em fluxo. Ao colocar em xeque a figura do autor como “gênio criador”e “arquiteto intelectual da obra”, evidenciando, em seu desaparecimento, a emergência de ghost writers, destituímos o livro de sua “imagem sacra”, colocando-o no jogo das estratégias de poder, em que ele, livro, ocupa o lugar de produto econômico rentável. Destacamos, nesse contexto, o papel do PNLD como instrumento útil a uma governamentalidade neoliberal que contribui para a instituição de uma cultura da performatividade, tornando trabalhadores disciplinados em empreendedores de si. Portanto, evidencia-se, nos capítulos e artigos que se seguem, o modo como o livro didático de Matemática apresenta-se como produto e potência em uma maquinaria de poder que se retroalimenta, produzindo, em meio às relações que dela decorrem, conhecimentos e sujeitos úteis à manutenção e perpetuação de um “modelo” de produção, no qual os grandes grupos editoriais mantêm sua hegemonia a partir dessas mesmas relações de poder, sempre flexíveis, multidirecionais e (re)adaptáveis.