Estudo de toxicidade cardíaca em pacientes em uso de rituximabe e trastuzumabe.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Valente, Patricia Marques Soares
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/27615
http://dx.doi.org/10.22409/PPG-CAPS.2021.d.02823768793
Resumo: A evolução do tratamento oncológico resultou no desenvolvimento de novas terapias relacionadas com alvos moleculares específicos como os anticorpos monoclonais. No entanto, os efeitos adversos cardiovasculares da terapia antitumoral podem limitar a continuidade do tratamento e reduzir a sobrevida do paciente. Entre os efeitos adversos, a cardiotoxicidade como a insuficiência cardíaca é responsável por alta morbimortalidade, podendo surgir durante ou após o fim do tratamento. O objetivo deste estudo foi identificar a toxicidade cardíaca em pacientes oncohematológicos em uso dos anticorpos monoclonais rituximabe e trastuzumabe. Foi realizado um estudo transversal e descritivo, com base na análise de prontuários, de todos os pacientes oncohematológicos que receberam tratamento com rituximabe para o Linfoma não-Hodgkin e trastuzumabe para o tratamento do Câncer de mama HER2 positivo, durante o período de 2013 à 2018 no Hospital Universitário Antônio Pedro. Foram identificadas as reações cardiovasculares infusionais e tardias, sendo aplicado o Algoritmo de Naranjo e a classificação das reações quanto à gravidade. Foram investigados os fatores de risco e sua associação com a cardiotoxicidade, utilizando Odds ratio (OR) como medida de associação para um nivel de significância de 95 %. De 2018 a 2020, além da análise de prontuários, as informações foram complementadas por entrevistas com alguns pacientes selecionados pelos fatores de risco e pela identificação de sinais e sintomas sugestivos de insuficiência cardíaca. Para a análise dos dados, utilizou-se um Formulário de Avaliação de Cardiotoxicidade. Para o rituximabe, em relação ao perfil dos pacientes, observou-se os principais fatores de risco:hipertensão arterial (47,9%), diabetes mellitus (22,9%), tabagismo (31,3%) e uso prévio de antraciclinas (87,5%). Foram analisados 48 pacientes, sendo identificadas reações cardiovasculares em 18 deles (37,5%). As reações foram principalmente infusionais e precoces. A insuficiência cardíaca (IC) foi observada em 4 pacientes, sendo que apenas em 1 deles a IC pôde ser atribuída ao uso do rituximabe. Nenhum dos fatores de risco analisados se mostrou significativo na identificação de RAM com o uso de rituximabe. As principais medidas de monitoramento foram o uso de protocolos sem doxorrubicina e o controle das doses cumulativas. Para o trastuzumabe, em relação ao perfil dos pacientes, observou-se os principais fatores de risco: hipertensão arterial (52,7%), diabetes mellitus (21,8%), tabagismo (32,7%), obesidade (29,1%), uso prévio de antraciclinas (47,3%) e radioterapia (56,4%) e as reações cardiovasculares ocorreram em 50,9 % das pacientes, sendo principalmente tardias. Em função do número reduzido de pacientes, não foi possível avaliar a associação estatística entre os fatores de risco e a ocorrência das RAM. Para o trastuzumabe, a principal medida de monitoramento das RAM cardíacas foi o acompanhamento pelo ecocardiograma. Os especialistas do hospital foram convidados a participar de um questionário online sobre as principais barreiras encontradas para o monitoramento dos pacientes oncohematológicos sendo a ausência de protocolos internos (60%) identificada como a principal barreira, seguida da dificuldade de comunicação entre os setores (40%). Ao final do estudo, foram sugeridos dois protocolos de monitoramento dos medicamentos oncohematológicos com potencial cardiotóxico para os setores do hospital. A realização das entrevistas ocorreu com quatro pacientes. O primeiro caso clínico envolveu cardiotoxicidade associada ao uso do protocolo contendo rituximabe e doxorrubicina em paciente com linfoma não -Hodgkin. O segundo caso envolveu cardiotoxicidade em dois momentos distintos: associada ao uso de doxorrubicina e em seguida associada ao uso de trastuzumabe em paciente com câncer de mama. No terceiro caso, a paciente apresentou síndrome metabólica após o tratamento do câncer de mama. O quarto caso envolveu cardiotoxicidade em paciente com câncer de mama gestacional. Através deste estudo foi possível identificar o desenvolvimento de insuficiência cardíaca com uso do medicamento trastuzumabe e principalmente reações adversas cardiovasculares infusionais ao rituximabe. Espera-se que mais estudos sobre toxicidade cardíaca sejam conduzidos em outras instituições de saúde para permitir maior comparabilidade entre populações distintas de pacientes. Ainda existem poucos estudos na literatura que avaliam e identificam toxicidade cardíaca associada aos anticorpos monoclonais, destacando a importância deste estudo para a vigilância de pós-comercialização e o conhecimento do perfil de toxicidade dos fármacos. Quanto às barreiras para o monitoramento dos pacientes a dificuldade de comunicação entre os setores e a ausência de protocolos clínicos refletem a fragmentação do cuidado na saúde e a dificuldade em se estabelecer protocolos de monitoramento principalmente para uma área nova como a cardio-oncologia. A etapa final desta tese, envolveu a elaboração de uma sugestão de protocolo clínico de monitoramento de RAM cardiovasculares para os medicamentos analisados, representando uma contribuição para complementar a discussão da cardiotoxicidade promovida no hospital. Espera-se que o protocolo, uma vez avaliado pelos setores envolvidos, possa ser implantado na unidade. Observou-se sensibilização dentro do hospital sobre o tema da cardiotoxicidade dos medicamentos oncohematológicos e espera-se que o estudo possa incentivar mais pesquisas envolvendo a farmacoepidemiologia e a cardio-oncologia.