Narrativas do aborto: corpos, memória e transmissão

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Pontes, Isadora de Araújo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/22295
Resumo: Esta tese tem por corpus quatro narrativas autobiográficas sobre abortos realizados na França: Ravages [Devastações] (1955) de Violette Leduc, L’événement [O Acontecimento] (2000) de Annie Ernaux, Dix-sept ans [Dezessete anos] (2015) de Colombe Schneck e Une femme sur trois: des mots sur l’IVG [Uma mulher a cada três: palavras sobre a IVG] [2015] de Nathalie Carron-Lanzl. Também as obras La Bâtarde [A bastarda] (1964) de Violette Leduc e Les armoire vides [Os armários vazios] (1974) de Annie Ernaux compõem este corpus, por compartilharem a mesma temática. São autoras de diferentes gerações e origens sociais, que narram vivências clandestinas, Ernaux e Leduc, e legais, Schneck e Carron-Lanzl, tendo realizado seus abortos após a legalização pela lei Veil de 1975. Na publicação original de Ravages, a autora narra os diferentes momentos da vida amorosa da protagonista Thérèse (primeiro nome civil de Leduc), culminando em seu aborto clandestino que quase a leva à morte. Em La Bâtarde (1964), sua primeira obra assumidamente autobiográfica, retoma o aborto narrado primeiramente em Ravages, cujo pacto de leitura parece se estabelecer de modo fantasmático, realizando-se no espaço autobiográfico. Na narrativa autobiográfica de L’événement (2000), Annie Ernaux conta seu aborto clandestino praticado na França em 1964, buscando tornar comunicável a violência sofrida e dar à experiência uma dimensão política e social, tendo já narrado seu aborto na obra de pacto ficcional Les Armoires Vides. Colombe Schneck publica, em 2015, Dix-sept ans, narrativa referencial sobre seu aborto, realizado legalmente em 1984. Como relata Schneck, a motivação para sua escrita nasceu de uma entrevista de Ernaux, na qual afirma a importância de se romper o silêncio e narrar a experiência, contribuindo para que essa realidade vivida pelas mulheres não seja esquecida. Também Nathalie Carron-Lanzl publica uma narrativa sobre seus abortos legais, tendo por particular a vivência de três IVGs em diferentes momentos de sua vida e sob diferentes circuntâncias. O aborto é ainda uma temática tabu, em desacordo com os preceitos morais e religiosos, visto como uma anormalidade, ignorando-se que a norma também representa uma produção artificial do poder. Vale lembrar que realizar um aborto no início dos anos 1960, como fizeram Ernaux e Leduc, era também um crime. Trata-se, desse modo, de narrativas sobre um tema interdito, ainda que não mais juridicamente, no discurso, que apresenta uma dimensão pessoal e coletiva. Assim, objetivo desta análise crítica é a produção de conhecimento sobre as obras de autoras que se tornam sujeitos da própria experiência através da escrita, narrando uma vicência comum a diferentes mulheres que permanece, no entanto, excluída da História oficial